Argel
Dias de Azevedo, pardo de olhos verdes, oriundo das paragens de Sabinópolis,
viera ainda jovem estudar no Seminário Arquidiocesano de Diamantina, com os
Padres Lazaristas.
Contava
que no refeitório do Seminário, recitava-se a Ilíada em Latim e Grego. Foi um
revolucionário para sua época. Por um acaso da natureza, apesar de agnóstico
por excelência, tornei-me seu amigo, havia um respeito mútuo pelos Dogmas
pessoais e mesmo a falta destes e foram longas noites de prosa e causos
interessantíssimos, entre uma dose da generosa água que passarinho não bebe e
tira gosto de queijo do Serro. Fez Bodas de Ouro de Ordenamento ainda na ativa,
morreu perto dos cem anos.
Em
um raio de 300 quilômetros rumo ao Norte de Minas, só existiam dois
engenheiros, um era Prefeito de Diamantina e o outro, esposa de um médico em
Araçuaí. Eu fazia Projetos Arquitetônicos , na década de 70, que eram
financiados pela Caixa Econômica Estadual e viaja constantemente a varias
cidades do Vale do Jequitinhonha, elaborando Projetos.
O
Padre Argel, pedira para levá-lo em uma destas viagens, queria visitar um velho
amigo e professor, o Padre Emiliano, na cidade de Minas Novas. Emiliano era de
cor, traços finos, educadíssimo, um verdadeiro filósofo, assim como o Padre
Argel.
Data
marcada, empreendemos a viagem que foi hilária. Cinco pneus furados no meu
velho corcel. No meio do caminho, eu disse ao Padre Argel, que o irmão dele de
criação, o João Diana, encontrava-se no Distrito de Senador Mourão, executando
o Projeto de eletrificação, que eu havia elaborado. Como não tínhamos pressa,
paramos para uma suposta visita rápida. Ledo engano.
Paramos
na casa da Dona Julia Tibães, Profa aposentada, onde o João Diana estava
hospedado. Quando apresentei o Padre Argel a Dona Julia, foi um alvoroço. Logo um
convite para um lauto almoço regado a paca, carne de panela, leitão assado,
vinho etc. Antigamente os Padres eram tratados com uma deferência especial,
eram como alta autoridade, reverenciados e paparicados ao extremo. Lá pelas
tantas do almoço, senta-se a mesa um visitante, calado, mas bom de garfo, comeu
até empanturrar-se. O almoço durou aproximadamente duas horas de mesa corrida.
O visitante já meio avexado pela hora, levantou-se e disse: D. Julia, muito
obrigado por este banquete, mas tenho hora marcada, hoje comi que nem um Padre.
D. Julia corou-se, o Argel delicadamente perguntou ao visitante: meu filho, ao
sentar-se a esta mesa, você rezou? Agradeceu a Deus a comida? Não senhor,
respondeu o visitante. Então o Argel disse: você comeu não como um Padre, mas
sim como um barrão (porco gordo), todos soltaram festivas gargalhadas. O
sacripanta, jamais imaginara que aquele homem pardo, baixinho, de olhos verdes,
com camisa de colarinho puído e paletó sujo de poeira, fosse um Padre.
Feitos
os agradecimentos pela lauta refeição, rumamos para a cidade de Minas Novas.
Naquela
época, a estrada não era asfaltada e a poeira era uma coisa terrível, fina,
vermelha em determinados trechos, chegava a mais de um palmo de altura.
Chegamos
a Minas Novas, onde o Padre Emiliano morava. Tomamos uma pensão, eram
aproximadamente 19:00 horas. Tomei um belo banho e o Argel disse que àquelas
horas, banho poderia constipá-lo, e apenas lavou as mãos, o rosto e sentou-se a
mesa para o jantar. Foi o primeiro a sentar e o ultimo a levantar. Lá pelas
tantas, fazendo-lhe companhia a mesa, vi a Dona da pensão fazendo gestos,
chamando-me em particular. Atendi ao seu chamado em reservado, na cozinha. Ela
disse-me apreensiva: senhor, olha, não fazemos caso de comida aqui na nossa
pousada, ficamos até satisfeitos em saber que os hospedes gostam da comida, mas
o seu Pai, esta exagerando, pediu-me mais uma travessa de carne cozida com
abobora, disse que estava deliciosa, e o problema é que nós não temos médicos
na cidade, ele viaja toda sexta feira e o seu Pai, pode passar mal à noite, ter
uma indigestão!!!! Dei uma risada marota e respondi a Dona da pensão: fique
tranqüila senhora, por dois motivos digo-lhe isto: primeiro ele não é meu Pai,
mas um amigo de longa data e segundo, ele esta acostumado a comer bem, pois é
PADRE. Arrependi amargamente de ter dito que o Argel era Padre, pois a partir
deste momento, veio carne grelhada, frango assado, carne de porco, e Argel, não
se fazendo de rogado, mandou ver. A estas alturas, eu que fiquei preocupado,
com o tanto que ele comeu, à noite.
Na
manhã seguinte, fomos visitar o Padre Emiliano, já enfermo no seu catre de
morte. Dissera-nos o seu médico, que o coração estava por um fio e que ele, o
próprio Emiliano, previra que iria morrer dentro de 15 dias, as 23:50 minutos.
Marcou dia e hora para sua morte e de fato ocorreu como previsto. Era
considerado um Santo. Mantinha sob suas expensas, uma creche com
aproximadamente 50 meninos. Era considerado o Hobim Hood do Sertão Baiano,
quando militara naquelas paragens, tomava dos Ricos para dar aos pobres.
Causo
verídico, ocorrido na década de 70
Francisca
da Silva de Oliveira, a famosa Chica da Silva, foi uma escrava alforriada, que
viveu no arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda
metade do século XVIII.
Mulata
formosa, prendada estéticamente, fora propriedade do Padre Rolim, Inconfidente
Mineiro, até ser alforriada por este, a pedido do novo Contratador de
Diamantes, João Fernandes de Oliveira.
Acerca
da Chica, corria no Tijuco a boca miúda, algumas lendas, causos interessantes,
modus vivendi.
Era
amancebada com o homem mais famoso destas plagas, o Contratador João Fernandes
de Oliveira, com o qual teve 13 filhos. O Contratador já era um homem rico,
dono de uma quadra inteira de casas no bairro do Chiado, em Portugal, e várias
quintas. Por estas plagas, e pelo cargo que ocupava, aumentou muito sua
fortuna.
O
contratador João Fernandes construiu um Palácio com vinte e um cômodos, onde
havia um jardim com plantas exóticas, cascatas artificiais. Como a Chica da
Silva não conhecia o mar, João Fernandes mandou formar um lago artificial e
construir um navio à vela, que navegava no lago transportando os convidados das
grandes festas que oferecia à sociedade local. Essas festividades eram animadas
por uma orquestra particular e pelas apresentações de teatro.
A
Chica da Silva era semi analfabeta, mas tornou-se uma mulher riquíssima,
freqüentava a Igreja carregada por escravos em Liteiras, com um séquito de 10
mucamas finamente bem vestidas e ornadas com jóias e Diamantes.
Uma
vez, mandou arrancar todos os dentes de uma escrava que lhe servia,
simplesmente porque o seu amante elogiou os dentes da dita escrava.
Também
era famosa a blague que dizia: O peido que minha sinhá deu, foi ela não, fui
eu. Quando a Chica da Silva soltava um pum, prontamente uma escrava assumia a
autoria.
A
Igreja do Carmo
João
Fernandes de Oliveira o contratador amancebado com uma escrava Chica da Silva,
desentendeu-se com os membros da Ordem Terceira do Carmo, que estavam a
construir a Igreja do Carmo, tendo que arcar sozinho, com as despesas da
Construção, e foi assim que ordenou a construção da Torre mestre nos fundos da
Igreja, para que sua amada pudesse freqüentar a Igreja, visto que, era Lei
naquela época; os escravos, mesmo os alforriados, não poderiam ultrapassar a
Torre da Igreja, deveriam assistir as missas do lado de fora da Igreja. Além da
Torre nos fundos da Igreja, os altares laterais, o altar mor e a nave, foram
pintados a Ouro e mandou construir um lindo e potente Órgão na entrada, movido
a fole, com mais de 750 cânulas, confeccionado no Tijuco por um artífice Padre.
O
fato de uma escrava alforriada ter atingido posição destaque na sociedade local
durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos. Chica
da Silva foi uma escrava que se fez Rainha, utilizando sua beleza e apetite
sexual invulgares para seduzir pessoas poderosas, entre as quais João Fernandes
de Oliveira o Contratador dos Diamantes, cuja fortuna dizia-se ser maior do que
a do rei de Portugal.
O
Tijuco, era uma província Mineral, que sustentou Portugal por décadas a fio,
com sua altíssima produção de Ouro e Diamantes, pagando inclusive a proteção Espanhola,
contra pirataria Inglesa. Sustentou por longo período o fausto da Coroa
Portuguesa.
E
assim sendo, a província do Tijuco, transformara-se em um Estado dentro do
próprio Estado, reportava-se diretamente ao Rei de Portugal. Tinha Leis
próprias, não era submetido ao comando do Governador Geral da Capitania das
Minas Gerais, o que causava enormes ciúmes e intrigas. Este poder exercido pelo
Contratador, de vida e morte, de deportação, prisão, confisco de bens,
desapropriações e o que mais necessário fosse ao bom andamento dos trabalhos
exploratórios mineiros de Diamante e Ouro. Existia o famoso Livro da Capa
Verde, que nunca foi encontrado, contendo todos os atos e Decretos dos
Contratadores.
A
exploração mineral no Tijuco, teve duas fases distintas: a primeira sobre o
modelo de contrato de arrendamento, pagava-se antecipadamente uma quantia
determinada em dinheiro por um lote Diamantino e o que fosse produzido naquela
área, estaria livre de tributos. Em uma segunda fase, mudou-se o regime de
exploração, passando ao famoso “quinto”, significava que a quinta parte do que
se produzia era para a Coroa Portuguesa, um royalite de 20% sobre a produção
bruta, sem descontar os custos operacionais. O “quinto”, foi um dos motivos
maiores da trama da Inconfidência Mineira, que levou vários personagens ao
Degredo na África, como o Padre Rolim, a morte por enforcamento de Joaquim da
Silva Xavier, o Tiradentes, a prisão do Poeta Alvarenga Peixoto e Cláudio
Manuel da Costa.
Imaginem,
naquela época, fizeram uma revolução por conta de 20% de impostos, e hoje,
pagamos algo em torno de 38% e ninguém diz ou faz absolutamente nada.
A
evasão de divisas e a sonegação dos tributos eram altíssimas e fez surgir o
famoso “Santo do Pau Oco”, que eram imagens de Santo, com furos no pedestal
para esconder Diamantes e contrabandear para Portugal sem pagar impostos.
A cidade de Corinto em Minas Gerais, foi
outrora um entroncamento ferroviário de muita importância. Fazia interligação
do Norte Mineiro com o Brasil. Eram Maria Fumaça expelindo a fuligem, movidas a
lenha, depois as locomotivas a Diesel.
De Belo Horizonte a Diamantina, um dia inteiro de viagem, com
uma parada generosa em Corinto para baldeação, ou seja: a troca de maquinas e
do comboio.
Nos idos de 1950, fora programado um evento em
Diamantina, por parte dos Integralistas, um partido político em voga a época.
Integralistas, para quem não lembra, eram os adeptos do Partido do Plínio
Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira, vestiam farda verde e
cumprimentavam-se estendendo a mão direita como Hitler, dizendo: Ana ué, Ana
ué.
Pois bem, nesta mesma época, os Correios e
Telégrafos tinham uma importância primordial nas comunicações entre os rincões
do Brasil, e tinha um vagão especial e exclusivo para carregar as malas, as
encomendas, cartas etc. O Chefe do Carro (assim eram denominados os vagões) dos
Correios na época, era um tremendo flautista,fazia blague até com a própria
sorte, conhecido de todos e em todas as paragens pelas corruptelas , fazendas,
Vilas etc. . Servia às vezes de pajem, levava e trazia recados, encomendas
particulares a favor e as vezes, até pessoas. Leitões e samburá de galináceos,
não faltavam.
A Estação Ferroviária de Corinto estava
repleta de Integralistas, todos vestidos a caráter, de verde, a espera da Maria
Fumaça para irem a Diamantina realizar um Congresso.
Eis que, inabitualmente a locomotiva não deu
sinal de parar na Estação Ferroviária, apesar de estar a marcha lenta. Assim
pensando , que a composição não iria parar por alguma razão na dita Estação, o
Chefe do Carro dos Correios, estendeu o corpo para fora do vagão, e dedo em
riste praticamente roçando os narizes Integralistas, foi dizendo em alto e bom
tom: PAPAGAIADAAAAAAAA. Obviamente por estes, os Integralistas, estarem
vestidos de verde. A Locomotiva andou uns 300 metros a frente da Estação, parou
e voltou para estacionar.
O Chefe do Carro dos Correios, teve que se trancar no banheiro da composição,
para não ser linchado, pelo alto insulto proferido aos Integralistas.
Tradicional família Mineira, no século
passado, em Diamantina era constituída via de regra por: um Padre, um Musico e
um Literato.
Monsenhor Gabriel Amador dos Santos foi fazer
escola Teológica em Roma. Chegou a ser Chanceler e confessor Papal.
Como premio pelos estudos, ganhou uma viagem de lazer ao Egito, juntamente com
outros Padres.
Chegando ao Egito, empreenderam uma maratona
de visitas a Museus, Igrejas, parque Arqueológico, e como de praxe, não poderia
faltar uma visita solene as famosas pirâmides de Quefren, Quéops e Niquerinos.
Contrataram os prestimosos serviços de
transporte, ao lombo de Camelos, e partiram a tão esperada visitação ás
pirâmides.
Eis que um imprevisto surge no caminho!!! Um
dos Camelos, a moda Brasileira do asno (Equus asinus), chamado ainda de burro,
jumento, ou jegue, cismou de empacar nas escaldantes areias do deserto. O pobre
GUIA fez de tudo, gritou, pediu, acoitou, apedrejou o Camelo e nada, o danado
não arredava o pé. Estava lá prostrado como quem dissesse: Daqui não saio,
Daqui ninguém me tira.
Depois de mais de meia hora de peleja, eis que
o GUIA , já meio injuriado com a pirraça do Camelo, profere a solene sentença:
Seu bastardo, e relou a pedra 90, Camelo de uma peste, embirrento, ta parecendo
um Jumento!!!!
O detalhe interessante desta passagem, foi que
o GUIA, proferira o xingatorio ao pobre Camelo, em claro Português, para
espanto dos presentes e principalmente Padre Gabriel. Numa terra longínqua, nos
confins do mundo, achar um GUIA falando Português claramente, era uma coisa
inusitada.
Assim que o GUIA proferira o xingamento ao
Camelo em Português, Monsenhor Gabriel interferiu e interpelou o GUIA: Meu
filho, você é Brasileiro? Sim senhor Padre, sou sim. Em que cidade nasceu no
Brasil?, Perguntou o Mons. Gabriel. Nasci em Diamantina, Minas Gerais. E seus
Pais, quem são em Diamantina? Fulano e fulana de tal, respondeu o GUIA. Conheço
muito, celebrei o casamento deles, também sou de Diamantina. Monsenhor Gabriel,
muito espirituoso, sugeriu ao GUIA, falar bem baixinho com o Camelo e bem perto
das suas zorreias.
Como que por milagre, logo após este colóquio,
o Camelo resolveu desempacar, e seguiram viagem.
De volta ao Brasil, Monsenhor Gabriel foi
residir no Palácio Episcopal da Arquidiocese de Diamantina. Certa feita,
acordou aturdido pensando estar atrasado para a Missa das 05:00 horas na
Catedral, vestiu-se correndo e saiu apressadamente para seu compromisso. Passou
defronte a Igreja do Carmo e viu uma missa sendo celebrada, com pessoas muito
bem vestidas, a caráter, mas fora de época, a Igreja muito iluminada e um Padre
que ele sequer conhecia, mas como estava atrasado, não parou para ver.
Chegando bem próximo a Catedral, onde ele
celebrava todos os dias a Missa das 05:00, encontrou-se com um dos boêmios
assíduos que de pronto perguntou: Monsenhor, onde o senhor vai a estas altas
horas? Vou celebrar a Missa meu filho, das 05:00 na Catedral. O boêmio
estranhou a atitude e disse: mas Monsenhor ainda são 02:00 da madrugada, ta
meio longe do seu horário ainda, não? Vixiii, será que errei à hora? Respondeu
Monsenhor. Com certeza errou e muito, pois são exatamente 02:00 da madrugada.
Conferido o horário, voltou juntamente com o
boêmio fazendo-lhe companhia e disse a este: vou aproveitar e assistir uma
Missa que esta sendo celebrada na Igreja do Carmo. Quando la chegaram, não
havia ninguém, tudo na maior calmaria, Igreja fechada. E isso, em questão de
minutos e alguns metros de distância da Igreja do Carmo.
Causo verídico, ocorrido em Diamantina na
década de 30.
Em todas as cidades do Brasil, existem pessoas
que entram para o folk Loren local e até Nacional, com suas bizarrices, manias,
tiradas especiais e até filosofias.
Em Diamantina existe o famoso Cazuza Funil.
Galhardo, alto, feio de fazer dó, e despossuído de toda sorte. Vive dirigindo
um caminhão Mercedes Benz, ultimo modelo, passando marchas , pelas ruas da
cidade. Obviamente, dirigindo gestual mente e fazendo o barulho das trocas de
marchas e freadas bruscas, com a boca.
De quando em quando, alguém, por sacanagem dá
sinal para parar, ele dá uma freada e pergunta: o que foi? Já vem vc pedir
carteira motorista? Já falei que tirei mas o DETRAN não entregou ainda. Aí a
pessoa que parou o Cazuza diz: esta forreca ta fundindo, tá soltando muita
fumaça rsrsrsr, no que prontamente a resposta vem na ponta da língua: você esta
com inveja porque não tem um caminhão zerado igual a este!!!!
De quando em quando, o Cazuza é intimado por
uma senhora boníssima, caridosa, a tomar banho em sua casa, isto digamos uma
vez por semana ou a cada 15 dias.
Em um destes banhos, o Cazuza grita la de
dentro do toalete: Dona Maria, Dona Maria, chuveiro ta saindo fumaça pelas
ventas, pegando fogo. A Maria Estefânia, viúva a longos anos, diz ao Cazuza:
enrole na toalha e abra a porta, por favor que vou ver o que aconteceu. Assim
que a porta foi aberta, e a Dona Maria adentrou o recinto, levou um susto
tremendo, ficou desfalecida, custou recobrar os sentidos. O Cazuza simplesmente
ao invés de enrolar-se na toalha e abrir a porta, enrolou o chuveiro com a
toalha rsrsrsrs e abriu a porta, e assim que a Dona Maria entrou e viu aquela
figura despida, com os documentos avantajados a simples vista, a pobre senhora
por pouco não desmaia, ela disse ao Cazuza: Falei para você enrolar a toalha em
você Cazuza e não no chuveiro, no que ele disse: a senhora não explicou direito
UAI, eu achei que era para enrolar a toalha no chuveiro.
Naqueles bons tempos, em que raramente algum
cidadão Diamantinense empreitava uma viagem a Capital do Estado, não havia
ônibus, apenas o trem de ferro, que descia singrando a serra do Paraúna, numa
lentidão continua, gastava-se exatamente um dia de viagem.
Quando chegava ao destino, o passageiro estava
todo empoeirado de fuligem de carvão, a locomotiva ainda era a famosa ” Maria
Fumaça” movida a lenha, apelido apropriadissimo visto que ia expelindo fumaça
pelo caminho.
Havia até o famoso guarda pó, para aqueles
viajantes mais assíduos, era como um jaleco de médico, vestia-se logo no inicio
da viagem e chegando ao destino, este já estava preto de fuligem, preservando a
roupa.
As viagens de trem de ferro, eram como uma
verdadeira maratona, alem de lenta, existiam várias paradas, em corruptelas,
vilas, fazendas, povoados e mesmo no meio do nada, para abastecimento de água e
lenha.
O que sempre me lembro, era do cheiro especial
das manzanas (maçãs) Argentinas, um cheiro especial, delicioso, característico,
vinham embrulhadas em papel roxo.
Uma espécie de garçom, passava de vagão em
vagão, oferecendo , em uma cesta de vine, as especiarias: biscoito de goma,
biscoito quebrador (de polvilho), guaraná Antárctica e chocolates vários. Era
como uma festa verdadeira, oportunidade única de saborear uma maçã e tomar um
guaraná Antárctica.
Detalhe: existiam três categorias de vagões de
passageiros: primeira classe, com poltronas alcochoadas, reclináveis, macias,
vagão limpissimo, cortinas de renda nas janelas, tratamento VIP, a segunda
classe bem próxima da primeira, com bancos de madeira forrados com espuma e
couro apenas, não eram reclináveis, nem tão macios eram.
Obviamente, a terceira classe, era um desastre
verdadeiro, a passagem custava menos da metade do preço, e os bancos eram de
madeira pura, sem forro, tipo bancos de praça. As janelas, via de regra eram
empenadas, não abriam para ventilar o vagão, e quando abriam, não tinham a
cortina para tapar o sol e o garçom, com as famosas manzanas Argentinas, sequer
se dava ao trabalho de visitar o vagão.
Famoso Mascate de Diamantina, tendo que ir a
Belo Horizonte, passa na porta da Joalheria centenária da família Pádua, e
dirige-se ao proprietário todo solícito: Toninho, estou indo a Belo Horizonte
agora, você deseja alguma coisa da Capital? Algum recado, alguma encomenda? O
Toninho Pádua, disse: muito obrigado fulano, boa viagem.
O viajante insistiu, o Toninho muito
espirituoso e na presença de varias pessoas disse: aliás, quero sim fulano, por
favor diga ao meu irmão em Belo Horizonte na Joalheria tal, que estou com umas
encomendas de jóias prontas aqui para ele, só esperando um portador de
confiança para mandar.
O viajante, naquele momento, não entendeu a
galhofa e disse: ok, darei seu recado.
Andou uns 100 metros, a ficha caiu ele voltou
e disse ao Toninho: mas escuta aqui, eu não sou de confiança? Se sirvo para
levar recado, sirvo também para levar a sua encomenda de jóias?
O dono da Joalheria, apertado com a
brincadeira disse: não fulano, preocupe não, é que meu irmão é muito sistemático,
e se eu enviar a mercadoria por pessoa estranha, que ele não esta acostumado,
ele não recebe, manda de volta, tendeu? rsrsrsrs
A cultura do conhecimento, você aprende em um
banco de universidade, ainda assim um tanto quanto limitada, específica.
A universalidade do conhecimento,
adiquirimo-la com o passar dos anos, com a vivencia voltada ao aprendizado
diário, e ao estarmos aptos a recebe-la, a ouvir os mais velhos, a proza diária
na esquina, nas rodas etc.
Alguns dizem que conversa de botequim, via de
regra, são infrutíferas, discordo plenamente!!!!.
Certa feita, provando uma branquinha, me foi
apresentado o Seu Ângelo, juiz de Paz e velho raizeiro do Distrito de São
Gonçalo do Rio das Pedras.
Fiquei encantado com tanta erudição, com a sua
cultura , maneira simples de falar e o mais importante: aquela vontade de fazer
o bem sem olhar a quem, ser prestativo, ajudar. E olha, que ele só havia
terminado o curso primário.
Em outros encontros, eu puxava conversa, sobre
plantas fitoterápicas. Perguntei-lhe um dia sobre o Canguçu Branco e sobre o
Canguçu Preto. Foi a gota dágua, ele desfiou um rosário de outras plantas e
suas indicações. A pergunta sobre o Canguçu Branco, foi para confirmar o que já
havia visto e presenciado.
No Garimpo do Ribeirão do Inferno numa manhã,
uma cobra Jaracuçu Correia, picou meu cachorro de nome “Presidente”, estávamos
na era da ditadura e não da ditabranda como disse a Folha de São Paulo.
Quando cheguei ao rancho da cozinha, vi o
“Presidente” estirado no chão ofegante, completamente imóvel e babando,
perguntei o que havia ocorrido e logo um peão disse: cobra peçonhenta picou o
bichinho, vai morrer logo !!!.
Neste exato momento chega o Jarbas meu Garimpeiro
Mestre, com um punhado de Raiz de Canguçu Branco, ele havia ido ao mato e
apanhado a raiz para ministrar no cachorro.
Falei : Jarbas, olhe o “Presidente”, cuide
dele enquanto vou a cidade buscar um soro anti ofídico, no que o Jarbas falou:
não precisa, dentro de meia hora ele estará bom, correndo pelos campos, eu
disse: mas como não precisa Jarbas? O cachorro está agonizando, é possível que
sequer dê tempo de ir a cidade em busca de soro !!!
O Jarbas era profundo conhecedor de raízes,
vivera sempre no mato, poucas vezes ia a cidade, remédio alopata nunca tomou,
ele me disse textualmente: Fique tranquilo , esta raiz de Canguçu Branco, vou
raspa-lá e misturar com leite e no maximo em meia hora, o cachorro estará bem.
Eu calculei o seguinte: iria demorar mais de
uma hora para chegar a cidade, outra hora para voltar, mais meia hora para
comprar o soro anti ofídico, assim sendo, no mínimo gastaria duas horas e meia.
Resolvi acreditar no Jarbas, ele mesmo me
dissera que já havia sido ofendido (picado) por uma cascavel e tomado o Canguçu
Branco.
A meia hora se passou e eis que o”Presidente”
estava de pé, meio cambaleando, mas estava e algum tempo depois, já estava
correndo pelo campo.
Depois perguntei a diferença do Canguçu Branco
para o Preto, o Jarbas me disse textualmente: são parecidos, mas o Preto é
altamente venenoso, mata na hora, se pegar errado no mato, ao invés de curar,
você mata na hora, ou o bicho ou a pessoa que for tomar.
O causo acima, lembrei por conta de uma
pesquisa que fiz na internet, sobre o fantástico e milagroso Óleo de Copaíba,
ou Pau D´óleo .
O Senhor Ângelo, me contou que antes da
segunda Guerra mundial, não existia ainda a Penicilina, e ele tratava as
pessoas da Vila de São Gonçalo do Rio das Pedras, que contraíam Gonorréia
(blenorragia), com Óleo de Copaíba e chá de Rosa Branca, assim como a
tuberculose.
Segundo pesquisas do Dr. Paulo Imamura da
Unicamp ,Universidade Estadual de Campinas São Paulo, a Copaíba (Copaifera sp)
ou Copaibeira, pertencente à família da Leguminosae-Caesalpinioideae, esta em
estudos avançados e com excelentes resultados iniciais, in vitro, contra 9
(nove) tipos de Câncer.
O Óleo é duas vezes mais potente que o
diclofenato de sódico.
Abaixo alguns links, a quem interessar, para
um estudo mais aprofundado, creio valer uma leitura, para simples conhecimento.
Em uma próxima oportunidade, relatarei mais
causos de fitoterápicos.
Causos do Garimpo.
Assombração e cobra de vidro.
Peãozada do garimpo, adorava uma branquinha,
obviamente as escondidas.
Os sacripantas compravam nas fazendas vizinhas ao garimpo, e escondiam no mato,
nas moitas. A noite se esbaldavam na marvada, a cada 10 ou 15 minutos,
desapareciam da rancharia, sumiam no mato e voltavam com aquela cara alegre,
lambendo os beiços.
Eu sabia, mas não podia fazer nada. O pinga era proibida no garimpo, pelo
menos, durante o expediente de trabalho.
Um amigo foi visitar-me , passando um dia corrido. A certa altura , na hora do
jantar , ele me perguntou: você tem uma pinga da boa aí, para abrir o apetite?
Eu disse: eu não tenho, pinga no garimpo é proibido; mas, se você perguntar a
qualquer peão aqui ele com certeza absoluta, lhe oferecerá um trago. Só tem um detalhe:
a pinga fica no mato, escondida e você terá que se deslocar até onde está a
marvada.
O problema maior, eram as pescarias à noite,
na verdade, peixe não pegavam nenhum, uma turma grande se deslocava para a
beira do rio, com a desculpa de pescar, e tomavam todas a que tinham direito.
A questão era que, no dia seguinte, as 06:00
da manhã, já estávamos de pé, tirado o jejum com uma farta e lauda refeição de
feijão tropeiro e em seguida íamos à faina.
Aqueles que se exaltavam na branquinha,
costumavam acordar atrasados e perder a hora, e obviamente, era um trabalho
rústico, seqüencial, dependia de toda a turma junta .
Uma noite, a minha cozinheira chegou a
rancharia toda descabelada, falando com a língua enrolada, perguntei a ela:
onde você estava Rita? Tomando todas é? Ela sequer respondeu, foi deitar-se.
Pensei, estão extrapolando, até a cozinheira eles já cooptaram!!!
Peguei uma prancha de madeira de mais ou menos
dois metros de comprimento, por quarenta centímetros de largura, apanhei cinco
velas no maço, e rumei para a beira do rio, um pouco acima onde a peãozada
estava reunida.
Lá chegando, coloquei a tábua no rio, acendi
as cinco velas e soltei rio abaixo. Fui de mansinho, sem fazer barulho, com
algumas pedras nos bolsos previamente escolhidas, pedras arenosas, quando
atiradas se desmancham, para bem perto onde eles estavam reunidos.
Assim que viram a tabua de madeira descendo o
rio, com as velas acesas, logo ficaram apreensivos, detalhe: uma escuridão
terrível, mal se enxergava um palmo adiante do nariz.
Alguém logo disse: é um caixão descendo o rio
com um defunto, vamos embora, isto é assombração!!!!
Um alvoroço danado, neste exato momento, joguei umas duas pedras arenosas, e
estas, ao se desmancharem ao bater nas arvores, transformavam em pequenos grãos,
e acertando alguns peões, que de pronto iniciaram uma gritaria e correria,
dizendo estarem sendo alvejados pelo defunto e seus asseclas.
Simultaneamente, havia gravado algumas vozes,
eu mesmo fiz a gravação, com nome de alguns garimpeiros, como o do Sebastião, e
liguei o gravador, bem baixinho, atrás de uma arvore, e este passou a
sussurrar: Sebastiãooooooooooo, Nonatooooooooooo, me ajudemmmmmmmmmmm .!!!!!!
Olha, sem exagerar nem aumentar um milímetro,
houve peão que borrou as calças, teve que tomar banho ao chegar ao rancho.
O mais engraçado, foi exatamente a falta de
solidariedade entre eles, naquele momento, que o gravador iniciou sua fala,
saíram todos em disparada, como se fosse: cada um por si, e Deus por todos
rsrsrsr.
O problema maior, foi que um peão desmaiou de
susto e foi literalmente abandonado pelos demais, deixado no caminho na mata.
Eu vinha logo atras, com o gravador na mão e uma lanterna de pilha ligada,
quando deparei com um peão estirado no chão.
Minha preocupação maior, eram os seus
batimentos cardíacos, assim sendo, abaixei e peguei o braço dele apertando-lhe
o pulso, para sentir os batimentos cardíacas, estes, deveriam estar na ordem de
200 por minuto.
Creio que fiz uma pressão mais forte no braço
do peão, para poder sentir as suas pulsações, e neste exato momento, ele
acorda, vê alguém segurando-lhe o braço apertadamente, no escuro, da um grito
de pavor, dispara numa corrida e some no meio da trilha, e eu atras com a
lanterna chamando-o, creio que deve ter atingido a velocidade aproximada de uns
60 km por hora, a pé fez até rastro de poeira rsrsrsrs.
Alguns minutos após, dei uma volta maior, e
fui ao meu rancho guardar o gravador e a lanterna.
Dirigi-me a rancharia da cozinha, e estavam
todos lá, tomando água com açúcar e café, alguns brancos, outros calados, todos
macambúzios.
Perguntei se estavam todos bem, disse que
havia escutado alguns barulhos estranhos, vozes estranhas, mas ninguém falou
absolutamente nada, todos se locupletaram e ficaram calados.
No dia seguinte, só se ouviam cochichos, nada
mais rsrsrs, nesta brincadeira, acabei perdendo um peão, ele pedira as contas,
justo o que borrou as calças.
E nunca mais, ousaram ir a beira do rio, para se esbaldaram na branquinha!!!!
Causo verídico, com testemunha ocular de vista
(e pleonasmo tb) ocorrido no Rio Jequitinhonha, na década de 80.
Durante mais de 20 anos trabalhando com
garimpo , tanto quanto rudimentar, com bombas de 6″ de sucção, fazendo dezenas
de catas, buracos, desviando vários rios do seu curso natural, em busca de
Diamantes, no Vale do Jequitinhonha, Mato Grosso e Bahia, colecionei algumas
preciosidades, foi um aprendizado contínuo, sempre alguém ensinando alguma
coisa nova, técnicas, filosofia de vida e causos interessantíssimos.
É como dizia um velho amigo garimpeiro: temos
que estar com as zoreia de pé, para aprender, dizia mais: Cavalo da sorte passa
arriado na nossa janela pouquíssimas vezes, e se estivermos ocupados com coisas
pequenas, acabamos não vendo e desperdiçamos a oportunidade!!!!
Rádio que proseava numa
língua diferente.
Peão pede para levar o radio Flipes (Phillips)
ao conserto na cidade, tava zangado.
Dia marcado, passei para apanhar o rádio na oficina, paguei e levei para o
garimpo.
Lá chegando entreguei ao garimpeiro, que todo alegre e sorridente disse: agora
posso ouvir Xitãozinho e Xororó toda noite e de madrugada também.
Dois dias depois, chega o garimpeiro , carinha meio triste dizendo: Óia doutor,
este danado veio cum defeito, só fala umas língua difícil, num intendo nadica
de nada qui eles falam.!!!
Pensei, danou-se, o rádio deve estar sintonizado em uma emissora de longo alcance,
e obviamente, pega algum país distante, aí falei: Sebastião, me traga o bicho
aqui, vou dar uma zoiada.
Rádio nas mãos, verifiquei que estava
sintonizado na BBC de Londres, quando girei o botão para procurar outras
estações, nada, não saia da BBC. Deduzi obviamente, que o técnico que consertou
o radio, esqueceu de colocar o cordonete que vai do botão ao giroscópio do
radio, para mudar de estação. Disse ao Sebastião: vá la na caixa de ferramenta
e me traga uma chave de fenda das pequenas, , vou ver se consigo dar uma jeito
para você.
Dez minutos depois, eis que o danado do Radio, já estava falando outros
idiomas, para alegria da peãozada rsrsrsrs.
Tv que prozeia mas não
mageia, e quando mageia, não prozeia.
Aos sábados , quando voltava do garimpo com
parte da turma de peões, sempre havia alguma encomenda, vale a ser feito,
compra de remédio para algum familiar dos garimpeiros etc. era uma gama variada
de incumbências que ia desde pedaço de fumo de rolo, paia de milho, até pilha e
sonrizal.
Chagando a cidade, o Nonato me disse: Doutor,
o senhor poderia levar minha TV para consertar que depois acertamos? Eu disse
tudo bem, vamos levá-la a oficina, mas o que tem a danada, perguntei a ele!!!
Ahhh Doutor, esta danada, quando prozeia não mageia e quando mageia não
prozeia. Eu, no alto da minha ignorância, não entendo nada, guardei o recado e
quando levei a TV a oficina , o técnico me perguntou o que havia ocorrido, qual
era o defeito, disse as mesmas palavras do Nonato: Olha, quando esta TV prozeia
não mageia, e quando mageia não prozeia, tendeu? O técnico disse: sim entendi.
Ao que eu perguntei: mas afinal que defeito exatamente é este? O técnico, com
cara de riso me perguntou: o senhor não sabe? eu disse: não, não sei, mas tenho
uma leve suspeita rsrsrs.
Ele explicou detalhadamente: quando a TV prozeia, significa que ela fala, tem
voz, e quando mageia, significa que tem imagem.
Voltou do conserto zerada, mageando e
prozeando perfeitamente!!!!
Diagnóstico elaborado por
verter água.
Próximo a Diamantina, no distrito de São
Gonçalo do Rio das Pedras, a 6 km de Milho Verde, havia uma espécie de pousada
e Colônia de férias, para filhos de Alemães e Suíços, dirigida pela minha amiga
Ana Kuner, pessoa agradabilíssima, de um coração esplendoroso, muito simpática
e educada.
Passando por la, a Ana me fez um pedido
inusitado: queria mostrar aos meninos, como funcionava um garimpo, no meio do
mato. Concordei, marquei um dia e fui la com a minha velha camionete Willis
Owerland buscar a meninada para conhecer o garimpo.
Eram uns 20 entre meninos e meninas, todos na
faixa etária dos 8 aos 15 anos aproximadamente. Verdadeiros capetinhas, todos
bem nutridos, avermelhados, alguns brancos como a neve.
Lá chegando, de cara alguns foram para perto do galinheiro, outros se
esbaldaram no pé de manga, e um deles voltou correndo e falou: Tio, tem um
monte de monstro ali, venha ver!!! Tomei um susto danado, mas quando fui com o
garoto averiguar, era exatamente o galinheiro. Ai mostrei a ele, um ovo e
perguntei: vc conhece isto aqui ? Sim, é um ovo, ai eu disse: sabe de onde vem
este ovo ? Ele falou: da prateleira do supermercado rsrsrs, tadinho, fiquei com
pena, fui explicar que quem produzia aquele ovo, era exatamente aqueles
monstrinhos de asas, fui até um ninho, pequei alguns ovos e mostrei a ele, mas
creio que ele nem acreditou em mim rsrsrsrsr.
Pedi a minha eximia cozinheira, a Rita
banguela, para caprichar no almoço, fazer alguma coisa leve para a meninada.
Saiu um caprichado molho pardo com quiabo, angu e feijão tropeiro, a meninada
adorou.
Logo depois do almoço, o Jarbas, meu
garimpeiro mestre, me chamou nun canto e disse: Luciano, fala pra Alemoa (Ana
Kuner, minha amiga) rsrsrs, descobrir qual menino mijou ali atrás daquela
arvore!!! Curioso, perguntei ao Jarbas: mas porque Jarbas, que tem um menino
urinar atras de uma arvore? Isto é normal, não temos mictórios aqui. Ele me
disse, venha cá, venha ver com seus próprios olhos!!!
Fui com o Jarbas ver “in loco”, a tal mijada. Chegando la, vi uma área no chão,
molhada em forma de circulo, lotada de formiga. Naquele exato momento, decifrei
a charada, formigas adoram açúcar, e esta urina aqui, deve estar cheia de
glicose. O Jarbas me disse seguinte: quando alguém urina e junta formiga, com
certeza absoluta a pessoa tem mal do açúcar no sangue.
Obviamente tratava-se de um caso de diabetes,
de uma taxa de glicose alta.
Chamei a Ana Kuner, mostrei-lhe as marcas da mijada e o circulo de formigas ao
seu redor, e pedia a ela para identificar qual criança havia feito xixi ali, e
posteriormente, leva-la ao médico para uma anamnesia mais detalhada.
Assim ela fez, levou a criança ao médico em Diamantina, este pediu uma dosagem
de glicose, e descobriu, o que nem mesmo a família do garoto sabia, ele estava
com diabetes, a glicose bastante alta.
E vejam o perigo, na pousada da Ana, havia uma gama variada de doces,
marmelada, goiabada, doce de leite, que a meninada adorava e se lambuzava.
Quando a Ana levou o garoto ao médico, e disse estar suspeitando que o mesmo
estava com diabetes, o médico a perguntou, baseada em que ela estaria com esta
suspeita, ela contou o ocorrido, mas o médico provavelmente não deu a menor
atenção, talvez nem tenha acreditado.
Melhor prognóstico de chuva
Antigamente, antes dos satélites de previsão
meteorológica, existia a famosa folhinha Mariana, elaborada pelos Monges
Capuchinhos, e era batata, não mascava, exceto em algumas ocasiões, e
obviamente, era um tanto quanto genérica em termos de região.
Chegando ao sábado, iria levar toda a turma do
garimpo para a cidade, ficava apenas alguns para tomar conta da rancharia, e
das máquinas.
Fim de tarde de sábado, peãozada tomando
banho, em ritmo de cantoria, o Jarbas , meu garimpeiro mestre chamou-me e
disse: seria melhor retirar o motor Mercedes 1113 da Bomba e elevá-lo na talha,
suspende-lo bem acima do curso normal do rio, pois iria chover muito naquele
fim de semana e se o motor ficasse naquele lugar, tomaria água, ficaria
submerso.
Olhei para o céu, não vi uma única nuvem sequer, nenhum sinal aparente de
chuva, perguntei ao Jarbas: como você sabe que amanhã vai chover ? Ele me disse
calmamente, você não viu a andadura das formigas? Eu disse: e o que tem haver a
andadura das formigas com a chuva que está por vir amanhã Jarbas? Ele, o Jarbas
me explicou e mostrou as formigas cabeçudas, andando em fila indiana,
apressadamente, em um ritmo fora do normal, fora do habitual. Eu olhei, olhei,
como jamais havia parado para ver o ritmo da andadura de uma formiga, não
entendi nada, mas como sempre tive por principio, acreditar e acatar a sabedoria
dos antigos, dos mais velhos, ordenei a peãozada para irem no mato, buscar dois
troncos bem altos em forma de forquilha, para fazer um andaime e elevar o motor
as alturas.
Eu tinha um sócio Espanhol, o Velásquez.
Pessoa ótima, de bom caráter, filosofo, educadíssimo.
O Espanhol estava doidinho para ir a cidade, havíamos passado uma semana no
mato, sem banho quente, sem as mordomias de uma boa cama, de um bar etc e tal.
Ele me disse: bobagem Luciano, vai chover coisa nenhuma, a peãozada ta doida
para ir embora, tomar uma grade de cerveja no boteco logo na entrada da cidade,
e isto era como um ritual.
Os peões vendo a posição de um dos sócios do
garimpo, logo ficaram ao seu lado, dizendo; vai chover nada, vamos embora, se
ficarmos aqui, vamos gastar umas 3 horas indo ao mato para arrumar os dois
troncos em forquilha, desparafusar o motor e eleva-lo na talha .
Eu disse seguinte: tudo bem, vocês é quem sabem, mas se não forem ao mato
buscar os troncos, não terão a grade de cerveja e as pingas com tira gosto no bar
da entrada da cidade, vão ficar com sede rsrsrs.
Eu costumava dar ordens, com uma certa
delicadeza, ao invés de mandar eu pedia por favor, contudo, os comandados
sabiam exatamente que teriam que cumprir.
Assim foi feito, elevamos o motor Mercedes Benz as alturas e rumamos para a
cidade.
Domingo pela manhã, ao acordar, olhei em direção ao Pico do Itambé, todo preto
, nuvens carregadissimas, pesadas.
Segunda feira pela manhã, quando retornamos ao garimpo, deparamos com as águas
do rio Jequitinhonha espumando, babando como diziam os garimpeiros, e havia
subido uns três metros de altura, contudo, o motor Mercedes, lá dependurado,
com água no carter apenas.
O Espanhol, ficou abismado de ver como um
matuto poderia prever, com precisão e antecedência de vinte e quatro horas, uma
tempestade forte daquele jeito, e sem um único sinal no céu, sem nuvens, sem
mudança de temperatura, nada , absolutamente nada.
Foi neste momento, que lhe contei sobre a andadura das formigas cabeçudas. E
obviamente, nunca mais esqueci a lição , dada pelo meu velho e querido amigo,
Jarbas Fidellis.
“Causos” verídicos, ocorridos na década de 80,
em Diamantina MG.
Bar do Nôca – Diamantina, Minas Gerais
Bar famoso funcionava apenas durante o dia por
décadas a fio.
Sua clientela maior eram os funcionários dos
Correios e Telégrafos, ficava ao lado da agencia.
Obviamente, alguns tropeiros por lá aportavam
também, visto que era passagem destes, na chegada a Diamantina, vindo dos
Distritos carregados de mandioca, verduras, rapadura, boa pinga e uma gama
variada de produtos produzidos em suas Terras.
O Bar do Nôca era tocado por dois personagens
impagáveis, Pai e Filho.
Um rendia ao outro em hora de almoço, serviços
bancários etc.
Certo dia, o pai fora almoçar e chega ao bar
um matuto com um castiçal de três pontas, de prata, bem conservado, bem de
família e oferece ao proprietário do bar. Depois de alguns regateios, a compra
foi efetivada.
O bar em pauta, além da boa pinga, pastéis e
carne de panela, vendia algumas quinquilharias, compradas de tropeiros, e mesmo
de ambulantes avulsos, era como uma renda extra ao Bar. Vendia garruchas,
espingardas de dois canos, polveiras, arcas, baús, alforges etc e tal.
Assim que chegou ao Bar, vindo dos serviços
bancários, o pai se assustou com a preciosidade comprada pelo filho e foi logo
falando: cadê o outro? Que outro papai? O outro castiçal seu mané. Não tem
outro papai, comprei apenas este. De pronto foi reprimido e chamado de besta,
otário etc e tal, porque aquela preciosidade só tinha valor, se fosse o par.
Passou praticamente uma década, e o velho
castiçal ainda estava lá ocupando lugar na velha e empoeirada prateleira.
Certa tarde ensolarada, eis que voltando do
seu horário de almoço, o filho se depara com um matuto subindo á rua da
rodoviária meio apressado, mas com uma raridade nas mãos, um castiçal idêntico
ao que ele comprou há uma década e estava lá encalhado na prateleira.
Abordou o matuto e foi logo dizendo: quanto o
senhor quer por esta peça? O matuto disse: não vendo, é presente para minha
filha, ela casou-se há poucos dias, e vou dar a ela.
Mas o comprador insistiu muito, argumentou,
contou a historia do castiçal e disse que precisava muito daquela peça para
formar um par, que seu velho Pai, passara praticamente uma década lhe cobrando
a compra de outro castiçal para formar o par, afora as galhofas dos
frequentadores, etc e tal.
O matuto percebendo o grande interesse do
comprador disse: vendo-lhe este castiçal, são $200 contos de réis. O comprador
oferecerá $100 Contos de Reis, contudo o matuto não aceitou.
Acabaram fechando negocio por $200 contos de
réis, quatro vezes o valor pagado a época pelo castiçal.
Negócio fechado, negócio feito.
Eufórico, o comprador ruma ao bar apressado
para dar a boa nova ao seu pai, e enfim, livrar-se das galhofas dos
frequentadores do bar.
Lá chegando disse: Papai tenho uma surpresa
para o Senhor, acabei de achar e comprar um castiçal idêntico ao que temos,
para que possamos formar um par e vendê-lo com um bom lucro.
O pai , velho tarimbado comerciante de
bugigangas, foi logo colocando as mãos na cabeça e dizendo: Desnaturado, burro,
levei anos para empurrar aquele castiçal em um matuto e você o compra meia hora
depois que o vendi, por um preço quatro vezes maior? Deste jeito, iremos à
falência rsrsrsrsrsr.
De hoje em diante, vc esta terminantemente
proibido de comprar qualquer coisa, seja lá o que for, estamos entendido? .
Funcionários dos Correios e Telégrafos que
frequentavam o bar,vez por outra, largavam os teletipos, davam uma escapadinha
e iam lá tomar uma branquinha, para abrir o apetite.
Numa destas escapadas, eis que o freqüentador
se depara com seu algoz, um cobrador meio zangado, cara feia, estivera à
procura do mesmo a dias, para cobrar-lhe uma penosa, uma conta bem atrasada.
Diante da desfeita, de ser cobrado na vista
dos colegas, já meio sem graça e sem o dinheiro suficiente para saldar a
divida, foi logo vociferando: Olha, diga ao seu patrão, que se me cobrar de novo,
na vista dos meus colegas, eu nem colocarei o nome dele na cumbuca no mês
vindouro, estamos entendidos?
Sem entender exatamente do que se tratava, o
cobrador disse: senhor, não entendi corretamente o recado a ser levado ao meu
patrão.
No que o frequentador disse, seguinte: como
devo a muita gente, e não tenho condições de pagar a todos, faço exatamente o
seguinte: escrevo o nome dos meus credores num papel, dobro e coloco numa
Cumbuca, depois aleatoriamente sorteio dois, que serão agraciados naquele mês,
os outros, terão que esperar pelo próximo mês, quando receber os meus
proventos.
Mas se o seu patrão mandar me cobrar
novamente, não colocarei o nome dele na cumbuca para ser sorteado.
Causo verídico, da década de 70, em
Diamantina.
Em todos os rincões do
Brasil, existem bares e bares.
Contudo, alguns são mais
peculiares, tem um diferencial. Por vezes, tem até mesmo clientela específica,
frequentadores assíduos.
O Bar em pauta,
tradicionalíssimo, passou de geração em geração, fez aniversário de 50 anos,
com direito a Furiosa (banda de música), bolo, fotos para a posteridade, e
obviamente, a especialíssima cachaça do Vale do Jequitinhonha.
Em suas prateleiras
empoeiradas, uma exemplar coleção da Branquinha, de todos os cantos do Brasil,
deve valer uma pequena fortuna. Os nomes da marvada, os mais variados,
cômicos e até mesmo pornográficos, tais como: Levanta moral, Prati
foi feita, Corno Manso, Corno bravo, Amansa Corno, atraz do Pau, Chora na
Vara, Linda Fulô, algumas famosíssimas como a Velha Januária, Da Glória,
Predileta , e não poderia faltar, a especialíssima ”Havana”, fabricada por
Anísio Ferreira na cidade de Salinas MG, para se ter uma idéia, ano
passado vi alguns exemplares desta marca em Parati RJ, ao preço de R$900.00
(novecentos) Reais, US$ 400 dólares a garrafa!!!!
Causos e mais causos, ao
longo de meio século, foram colecionados pelo proprietário, alguns
hilários, outros inverossímeis!!!. A seguir , uma pequena mostra:
O mais interessante, é que
este Bar, o Serenata, só abria suas portas, por volta das 16:00 horas, e pontualmente,
não passava das 22:00 horas, questão de tradição. Servia apenas pinga, tira
gosto e cerveja gelada, nada mais que isso.
Matuto adentrou o bar e foi
logo pedindo, uma dúzia de pastéis e uma pinga, no que foi prontamente
atendido. O pastel era mirrado, mas de boa procedência, bom tempero, massa
especial, caseira. Terminado a dúzia, o matuto pediu outra dúzia. Já não
aguentando mais, disse ao balconista: embrulhe mais uma dúzia, o que seria a
terceira dúzia de pastéis, quem sabe em casa terei mais sorte?
O balconista
novato, intrigado, perguntou ao matuto: mas sorte em que senhor? O matuto
responde: UAI, ouvi dizer, de pessoa de confiança, que se alguém achar uma
azeitona dentro do pastel, ganha um Fusca Zerado!!!!!
Dia findando, ainda com
lusco fusco, adentra o bar o senhor Lacerda, garimpeiro famoso, alegre e
flautista ao extremo. Dirige-se ao dono do Bar e fala: por favor, embrulhe
aquele cacho de Banana, aquele mais maduro e deixe-o separado aí, que mais
tarde passo aqui para levá-lo ao garimpo, retirou o dinheiro da carteira,
pagou, recebeu o troco e se retirou.
A questão é que, não havia
cacho de banana algum.
Antigo fiscal do Estado,
que estava debruçado no balcão tomando sua pinguinha diária, olhando aquela
cena, aguçou o olhar, esfregou os olhos e ficou intrigado com o fato,
porém, não disse nada.
No outro dia, a mesma cena
se repetira, com fidelidade extrema, e o sujeito a postos, o Fiscal do Estado.
Passados alguns dias, deram
falta do Fiscal do Estado, assíduo frequentador do Bar Serenata, alguém
perguntou: e fulano, que aconteceu, dois dias seguidos que não vem ao Bar?
No que um dos presentes
disse: ele foi a Belo Horizonte fazer exames de vista, disse que não estava
enxergando mais nada, nem mesmo cacho de banana maduro.
Prefeito de Diamantina na
década de 70, engenheiro do antigo Departamento Nacional de Estrada e
Rodagem, fora a Belo Horizonte operar os ouvidos, não estava escutando
absolutamente nada.
A cirurgia fora um sucesso,
devolveu-lhe a alegria de prosear, de estar entre os amigos.
Lá pelas 22:00 horas, o Bar
Serenata oferecia aos presentes e mais especificamente aos chegantes, a ultima
coada de café, e de graça. Uma turma enorme ficava na esquina esperando o café,
para irem embora para casa.
O único ônibus que chagava
a cidade, era exatamente as 22:00 horas, e o ponto, em frente a praça da
Catedral, ao lado do Bar Serenata.
Apeia do ônibus , o
Prefeito e vem todo sorridente , ao encontro da turma que sempre estava a
esperar a ultima coada de café.
Combinaram o seguinte, os
sacripantas: Olhe gente , lá vem Dr. fulano, o Prefeito, ele esta vindo de Belo
Horizonte, onde foi operar os ouvidos, vamos fazer de conta que estamos
conversando normalmente, vamos cumprimentá-lo , saúda-lo, porém, apenas
com mímica, não vamos emitir som algum, vamos fazer de conta que estamos
conversando normalmente, mas sem voz, ok? Todos concordaram.
Para chegar a Diamantina,
sobe-se em poucos quilômetros, de uma altitude de aproximadamente 600
metros para uma altitude de 1.300 metros, depois de singrar a serra do Paraúna,
e obviamente mesmo quem não tem problemas auditivos, as trompas de Eustáquio,
ficam obstruídas por algum tempo, e há uma perda auditiva momentânea.
Aproxima-se o Prefeito e
efusivamente cumprimenta um a um dos presentes, em voz alta: boa noite
fulano, boa noite cicrano como vai dona fulana sua esposa, e assim a
todos saudou, porem, não ouvia a retribuição dos comprimentos. Tentou
puxar uma conversa sem sucesso, apenas ele falava, os presentes, apenas
balbuciavam em mímica, as respostas.
O Prefeito foi ficando
agoniado com aquela situação inusitada, despediu-se de todos e disse: Vou
para casa, ligar meu rádio Phillips, passar bem.
Chegando em casa, abre a
porta da rua, sobe as escadas, e a Luz apaga, era comum em época de chuva, a
Luz faltar, e só voltar no outro dia.
Dizem que o Prefeito não
pregou os olhos durante a longa e tenebrosa noite na escuridão.
Assim que o dia raiou, as
varredeiras iniciaram seu trabalho diário exatamente as 06:00 da manhã.
Vendo que o dia raiara, sai
o Prefeito a rua, dando bom dia a todo mundo, mais exatamente as
varredeiras de rua, dizem que até uma estátua ele cumprimentou. Quando
ouvia a retribuição do seu cumprimento, do seu bom dia, ele se alegrava
efusivamente, perguntava pelo marido, puxava assunto, perguntava se as
varredeiras estavam recebendo o salários em dia etc e tal. As varredeiras,
ficaram sem entender absolutamente nada, visto que o Prefeito, não tinha este
hábito, de cumprimentá-las tão efusivamente, muito menos puxar prosa.
Assim que encontrou um dos
frequentadores do bar Serenata, disse-lhe: Vou mandar fechar este bar, vocês
não tem respeito, passei uma noite terrível, angustiado, por conta da galhofa
de vocês.
Logo a tarde, já desistira
de fechar o bar, visto que seria um prejuízo eleitoral dos maiores, e como
velha raposa Udenista, pode perder o amigo, mas jamais a piada!!!!!!
Causos verídicos, depois
volto ao Bar Serenata.
Os festejos Litúrgicos da
Semana Santa, no Distrito do Curralinho, Município de Diamantina, sempre foram
de dar inveja: banda de música, procissão com personagens vestidos a caráter da
época, Guarda Romana, pálio, toda a pompa para o evento.
Centenas de pessoas de
Diamantina, iam assistir o cortejo no Distrito de Curralinho, preterindo o do
Município. Diziam que havia mais pompa, mais alma, era mais real, e com certeza
era mesmo, pois até encenação da crucificação do Cristo havia, com personagem
real, ao vivo.
O personagem que encarnava
e representava Cristo, até a barba deixava crescer, quando vesprava a Semana
Santa. Sujeito cônscio das suas obrigações, sério, alto e magro, comprador de
Diamantes afamado na região, meio bronco por natureza, mas adorava fazer o
papel de Cristo crucificado. Aquilo, era o máximo para ele.
Havia um único porém: ele era chegado numa
branquinha, numa marvada, numa cachacinha.
A questão era que, o
cortejo, a encenação com descendimento da Cruz, duravam uma eternidade,
com direito a pregação de Bispo, padre etc e tal.
O ator, ladino como ele só,
combinou com seu algoz o seguinte: toda vez que eu pedir água, na cruz, vc por
favor embeba um chumaço de algodão em pinga e coloque na ponta da vara e
me sirva, assim , não vejo o tempo passar.
Trato feito, trato cumprido. Só que,
com imprevisto o célebre ator não contava.
A esposa do soldado romano
que servia água a Jesus na Cruz, estava prestes a dar a luz a mais um rebento,
e justo no momento em que ocorria a crucificarão, logo após o primeiro
pedido de água, que na verdade era uma boa dose de pinga embebida no algodão, o
algoz foi chamado as pressas a sua casa, por um emissário, sua esposa entrara
em trabalho de parto, justo naquele momento.
Assim sendo, tratou
rapidamente alguém para substituí-lo na encenação. Foram a uma casa vizinha,
trocaram de roupa e o novo algoz ficou a postos, com um detalhe: o algoz
que saíra , esqueceu-se de dizer ao novato que o substituiu, que ao invés de
colocar água no algodão, era para colocar uma boa dose de pinga, o litro estava
escondido debaixo da armação de madeira, do palco.
Na primeira pedida de água
do ator, que estava a representar o Cristo crucificado, depois da troca do
algoz, houve um espanto total dos presentes, ao ouvir o Cristo
crucificado, logo após bebericar o algodão: “Vade retro Satanás” , p.q.p. que
me sacanear é? Detalhe: ao invés de falar baixinho, segundo dizem, ele era meio
surdo, falou alto e todos escutaram rsrsrsrs.
Uma algazarra total,
murmúrios, risos, cochichos, muitos dos presentes a cerimônia Litúrgica, sabiam
literalmente do que se tratava, pois anos a fio, a mesma historia se repetira.
O Bispo interrompeu o
sermão, perguntou ao ator: está sentindo-se mal filho? ao que prontamente foi
respondido: não senhor, estou bem, só estou numa secura danada!!!!.
Mais um pedido de água, mais uma decepção!!!!
mais cochichos, desta feita, baixinhos!!!!
No terceiro pedido de água,
o algoz, já sem entender nada do que estava acontecendo, disse em voz alta:
Vais ficar com sede mal agradecido, e não serviu-lhe a água.
Nestas alturas dos
acontecimentos, arma uma tempestade das bravas, daquelas de arrancar arvores
pelo tronco e derrubar cavalo amarrado.
O Bispo , vendo o povaréu
esvair-se da praça, logo sugeriu: Gente, vamos terminar o sermão na Igreja,
todos para dentro da Igreja.
E assim, em ritmo de
manada, todos se retiraram, a praça em questão de minutos, ficou
completamente vazia, sobrando apenas, um padre velho que andava bem devagar, e
algumas senhoras já bastante idosas, e obviamente, o ator, lá no alto da cruz,
amarrado pelos braços e pernas. Fora esquecido!!!!
Eis que surge um grito: me
tirem daquii, me tirem daquii, e com os punhos balançando,como que tivesse
dando banana, disse em alto e bom tom: Cambada de f.d.p. , ano que vem, aqui
para vocês óooo, e olhava para os dois punhos, balançando.
O Padre velho, ouviu aqueles xingatórios,
voltou e disse ao ator: Vais ficar aí pregado, espiando sua blasfêmia!!!!!
Causo verídico, ocorrido em
Curralinho, distrito de Diamantina, nos idos de 1950.
Antes da primeira Grande Guerra Mundial, os moradores
da pequena cidade provinciana de Diamantina, tinham muito pouco lazer à
disposição.
Um grupo de senhores mais abastados, sempre
que o sol despontava no horizonte, rumavam para o clube local, para uma
jogatina de pôquer, valendo alguns Contos de Réis.
Não era um jogo de vida ou morte. Aventureiros
às vezes apareciam, mas logo eram depenados, pelo conluio dos demais. Era tão
somente uma diversão, vez por outra, alguém extrapolava e perdia uma boa
quantia.
Queixas eram dadas as autoridades competentes,
via de regra, pelas próprias esposas dos viciadissimos jogadores, mas sem
nenhuma providência tomada, visto que, estes eram pessoas de bem, da mais alta
sociedade. Assim sendo, as autoridades faziam ouvidos de mercador, ouvidos
moucos.
Participavam advogados, comerciantes,
mascates, fazendeiros, garimpeiros, aposentados etc. e obviamente alguns
“sapos” .
Dois episódios interessantes ocorreram com o
mesmo personagem, garimpeiro de cristal, na flor da sua terceira idade,
engraçadissimo, de uma presença de espírito fabulosa, daquelas almas que vieram
ao mundo para serem felizes e também trazer felicidade aos que o circundavam.
Mesa de pôquer formada, o Senhor Lacerda
inicia sua aventura cotidiana juntamente com os demais viciados na jogatina
diária. Havia tirado uma boa partida de cristal limpo, e vendido a bom preço
para os Americanos.
Exacerbou-se no jogo, dobrando as apostas, e
acabou perdendo uma pequena fortuna na mesa de pôquer.
Meio descabriado, despediu-se de todos e disse que voltaria em alguns minutos.
Uma hora depois, adentra a sala de jogos do Clube, o Senhor Lacerda, com o
terno de linho SS120 todo amarrotado, gravata a meio pau, cabelo despenteado e
andar trôpego, e balbuciando palavras pouco compreensíveis aos demais.
Assim que adentrou a sala de jogos, fechou a porta com a chave e retirou-a da
fechadura, colocando-a no bolso do seu paletó de linho, o que de certa forma já
causara espanto aos demais, que estavam presentes à mesa.
O Senhor Lacerda pediu um minuto de atenção a
todos, interrompendo o jogo, e iniciou um breve discurso. Foi lacônico. disse a
que veio:
Queridos e digníssimos companheiros e conterrâneos de longa data, eis aqui, a
Vossa frente, um Homem literalmente falido, vitima do seu próprio vício.
Impossibilitado doravante, de cumprir seus compromissos financeiros agendados
anteriormente, tomei uma drástica decisão!!!! Partirei desta vida, para quem
sabe, uma melhor em lugar desconhecido e não sabido. No entanto, resolvi levar
comigo, os queridos amigos aqui presentes, que de certa forma, contribuíram
para a minha ruína financeira.
Neste momento, o Senhor Lacerda, retira do
bolso do seu paletó de linho SS120, três bananas de dinamite, previamente
arranjadas, digo amarradas umas as outras, e um pavio bem curto, coisa de
centímetros, e diz: encontrar-nos-emos em algum lugar, ou no céu, ou no
Inferno.
Logo apos o pequeno discurso, ateou fogo ao pavio da dinamite!!!!
Uma balburdia generalizada, alguns tentando
arrombar a porta de aroeira, sem conseguirem, outros, enfiaram-se debaixo da
mesa de jogo, um deles, advogado célebre na cidade, desandou a chorar e a
lamentar, dizendo: Valha-me Deus, perdoe os meus pecados, se é que os tenho
rsrsrs.
A esta altura, já exalava um mau cheiro na
sala pequena de jogos, alguém defecara de tanto medo.
Passados alguns minutos, que mais pareceram horas ou dias, em um misto de
pavor, medo e indignação, o Senhor Lacerda, desandou a gargalhar, ria a
cântaros, para desespero dos demais.
Disse laconicamente: cambada de maricas,
medrosos, não vamos a lugar algum. Aliás, vamos sim, sair logo daqui, porque tá
um cheiro horrível de bunda velha rsrsrsrsrs.
A dinamite não era real, o senhor Lacerda,
como velho garimpeiro, sabia bem manipular os cordéis, pavios e a dinamite,
usará por longo tempo em seus garimpos. Ele retirou a pasta interna da
dinamite, deixando apenas o invólucro, preencheu o vazio da embalagem com
estopa e colocou um inofensivo pavio, claro, este real.
Dizem que o Senhor Lacerda ganhou dois
inimigos fraternais, ad perpetum, por esta brincadeira macabra rsrsrs.
Esta troça, foi motivo de flauta, de gozação
por décadas a fio.
Em outra feita, ao derredor da mesma mesa de
jogos, o Senhor Lacerda, sempre levada nos bolsos do seu paletó de linho ss120,
amendoins torrados. E para seu espanto, um sapo, um não jogador, um daqueles
olheiros habituais, um curioso, assiduamente lhe fazia parceria nos amendoins,
a ponto de meter a mão nos bolsos do paletó para retirá-los.
Certo dia, já meio injuriado com os abusos do
curioso sócio nos amendoins, mas sem querer ofender o sujeito, colocou dentro
do bolso do paletó, alguns amendoins torrados e bosta de cabrito. Ao que o
sócio intruso, na medida que ia furtando os amendoins , dizia: este esta bom,
este está chocho, este esta bom , este esta chocho, mal sabendo o sacripanta,
que metade do que comera era amendoim, a outra metade, bosta de cabrito.
Em outra feita, este mesmo curioso observador,
de nome Cara Preta, tomou o maior susto do mundo.
A luz elétrica, sempre ia embora, demorava alguns minutos, mas voltava.
Num destes apagões, antes da chegada do curioso Cara Preta, os habituais
jogadores combinaram seguinte: quando a luz elétrica for embora, alguém se
levanta e vai até o interruptor de luz e o apaga, para que, quando a luz
retornar, não acender na sala de jogos, continuar no escuro, e assim
continuaremos a jogar (fingir que) no escuro, como que se a luz elétrica já
estivesse voltado, normalizado.
Assim sucedeu a farsa, uns pedindo duas
cartas, outros 3 cartas, outros dizendo passo, e na seqüência, alguns dobrando
o cacife da aposta .
O sujeito foi ficando apavorado, descabriado,
vendo que os presentes estavam jogando normalmente e ele não estava vendo
absolutamente nada, subseqüente deu um grito e disse: estou cego,
socorrooooooooooooo!!!!!!!
Bem que Mainha me disse que eu ainda ia ficar cego por castigo.
“Risus abundate in ore
stultorum” (O riso, abunda na boca dos tolos). Silêncio total e
arrependimento, porque quando acenderam a luz, o pobre Cara Preta estava com os
olhos vendados pelas mãos, e se recusava a abrir-los rsrsrsrsrsrs.
Causo verídico, ocorrido na década de 40, em
Diamantina, e relatado pelo Senhor Lacerda a mim, que fui seu parceiro em um
garimpo de diamantes, no Rio Jequitinhonha.