sábado, 25 de julho de 2015

Tour Pela Europa

Tour pela Europa.

Antigamente a profissão de Professora , Mestra, era Glamorosa, respeitadíssima além de uma áurea que justa e convenientemente se lhe proferia.
Na cidade de Diamantina, naqueles bons tempos, sequer televisão existia, assim sendo, o conhecimento era passado oralmente, pelas digníssimas Profas, pelos mais velhos e mais experientes, pessoas viajadas, Padres, Advogados, Médicos, e obviamente pelos noticiários do velho sistema radiofônico, os rádios a válvulas, que demoravam em media meia hora para esquentar, eram chamados rabo quente, etc..
Pois bem, famosa Profa em Diamantina, Dona Dulce Baracho, elegantíssima como sempre, iniciou a aula dizendo: meus queridos alunos, hoje iremos fazer uma viagem pela Europa, um tour por Roma, Amsterdã, França, Veneza, vamos conhecer o Coliseu, a Torre Eiffel, o Palácio de Buckingham.
Neste exato momento, um aluno La no final da sala se levanta e diz: com licença professora, posso ir a minha casa para pedir a minha Mãe, se posso viajar para a Europa com a turma? Risos e gargalhadas , no que a paciente professora explicou ao aluno: Fulano, nós vamos fazer um passeio imaginário, eu vou explicando e mostrando a fotografia a vocês, dos Países, cidades, suas historias, seus personagens.
Hoje, a professora poderia simplesmente dizer: fulano, nós vamos fazer um passeio virtual, mas naquela época, não existia computador, nem radio de pilha, nem gravador, a Televisão apenas em algumas Capitais.
Dizem que Dom Geraldo Proença Sigaud, rolava de rir, toda vez que lhe contavam este causo.

Causo verídico, ocorrido em Diamantina, na década de 60.


O Coice

O Coice.

Mocinho tinha que ser valente para enfrentar o vilão do começo ao fim dos episódios. Cowboy mofino, nem falar. Tinha que ser bom de murro e de tiro, saber correr e saltar no cavalo. Foi por isso que Roy Rogers nunca suplantou Rocky Lane. Rogers brigava pouco e cantava muito.
O seriado era também estrelado pelo famoso cavalo de Roy Rogers chamado Trigger, e um cão Pastor Alemão chamado Bullet. O curioso neste espetáculo era o fato da maioria do elenco principal interpretar seu próprio papel. Roy Rogers era Roy Rogers, Dale Evans idem, assim como Pat Brady, Trigger e Bullet.
Blacky Jack, este era o nome do famoso cavalo de Rocky Lane.
Seriados dos mais variados e filmes, aos domingos nas matinês, eram esperados com euforia pela meninada. Durante a semana, vendiam garrafas de vidro nos armazéns, catavam sucata alumínio e cobre, para angariar fundos, obviamente, salvando o ingresso na matinê de Domingo. Este não era meu problema, meus Tios, tinham dois cinemas na mesma cidade, a questão era: quem eram meus convidados a assistir os filmes de graça. Obviamente a namorada e os cunhados .
Na cidade de Couto Magalhães de Minas, vulgo Rio Manso, não havia cinema, e um amigo do meu Pai, na época jovem e apaixonado com cinema, vinha para Diamantina, montado em lombo de burro, única e exclusivamente para assistir filmes de far west aos domingos, era tão apaixonado, que decorava as falas dos atores, sonhava a noite cavalgando pelas pradarias, atirando com as belíssimas winchesters papo amarelo, via-se no espelho, portando lindos coldres com revolver Smith western.
Pois bem, os animais, mais exatamente os burros, ficavam arriados a porta da casa dos parentes, a espera do termino da matinê, para regresso a Rio Manso.
O Coutense, saiu tão empolgado da matinê, onde saciara o desejo de ver seu astro favorito Rocky Lane montado em seu famoso cavalo Blacky Jack, que ao aproximar-se da residência onde seu Pai o aguardava, avistou um burro arriado, em posição de montaria, pegou uma carreira, deu um salto pelos fundilhos do animal, tentando alcançar a sela, numa imitação gestual do seu astro favorito no cinema. Deu-se mal, era de pequena estatura e errou o salto, escorregando pelas ancas do burrico, e este, certamente assustado pelo atrevimento do jovem, desferiu-lhe um coice de grande potencia.
O rapaz tomou verdadeira ojeriza por Cavalos, burros, e congêneres, pois ficou três meses mancando e seis meses de castigo, sem poder vir a Diamantina assistir seus filmes favoritos!!!!
O protagonista desta historia, atualmente é comerciante em Diamantina e mantém um pôster de Rocky Lane montado em seu cavalo, na parede do seu escritório.
Causo verídico, ocorrido na década de 50, em Diamantina







O Cabrito

O Cabrito.

Em todas as cidades do Brasil, sempre vislumbramos figuras exóticas, estranhas, populares, fanfarronas e por ultimo, os eternos gozadores, que fazem blague com qualquer coisa, dependendo da hora, inventam!!!

Este causo, envolve uma trupe de desocupados, que vez por outra, fazia algum incauto andar léguas, infrutiferamente, atrás de um cabrito imaginário.
A historia iniciou com algum senso de realidade. Antigo morador do Bairro Presidente, nos arredores do Hospital e Campo do Tijuco, cismou de criar bodes, cabritos etc., com um detalhe: os animais ficavam soltos e perambulando pelas ruas do bairro, e vez por outra, desaparecia um, sempre antes de um coletivo churrasco.
Certa feita, por gozação, Manoel do Brejo, disse a turma do Bar Serenata, sentindo a presença de um estrangeiro (qualquer pessoa que não fosse Diamantinense): Gente, não sei o que fazer com um danado de um cabrito que tenho La em casa, já comeu todas as rosas da minha esposa, rasgou a roupa das crianças que ficavam no varal, suja o quintal todo, enfim, desfiava um rosário de lamurias e dizia mais: pior que nem posso fazer churrasco do bicho, porque minha esposa não deixa, tem pena do bichinho.
O estrangeiro, observando a conversa, disse: posso lhe ajudar companheiro, caso queira, fico com o dito animal, faço um belo churrasco do danado.
O Mané do Brejo, com semblante aliviado e satisfeito, logo ia dizendo: é seu, que alivio encontrar uma pessoa para doar este cabrito. Só tem um detalhe, hoje bem cedinho, pedi ao Tomé da Palha, para guardar o bicho La no pasto dele, na saída para Curralinho.
O estrangeiro, agraciado com o cabrito, municiava-se de corda, e rumava para o bar do Tomé na Palha, uns 3 quilômetros do centro da cidade. Lá chegando, ia logo dizendo: Cadê meu cabrito? Manoel do Brejo me deu o bicho de presente e vim buscá-lo!!!!
O Tomé do Bar da Palha, colocava as mãos na cabeça e ia dizendo: vixiiiiii, danou-se amigo, acabei de me livrar do danado do cabrito, pois comeu todas as rosas da minha esposa, rasgou a roupa dos meninos no varal e pedi ao Chico Boquinha, meu amigo, para levá-lo e quardar em sua casa, mas o senhor pode ir até a casa do Chico, e pedir a ele para entregar o cabrito. Chico Boquinha, era um soldado aposentado, dono de boteco, que morava na saída da cidade rumo a Belo Horizonte, o oposto do Bar da Palha.
O estrangeiro acabava rumando para o Bar do Chico Boquinha, em busca do cabrito.
Dependia muito, do dia e do humor do Chico Boquinha, a resposta ao felizardo ganhador do cabrito, das mais variadas: Larga de ser Mané sô, tem cabrito aqui não!!!! Ou : puxa, acabei de sangrar o bicho, vou fazer uma festa hoje à noite com churrasco!!!! Ou ainda: ô amigo, chegou atrasado, acabei de dar o danado do cabrito para uma pessoa que mora em São João da Chapada, tem pouco tempo, uma meia hora aproximadamente.
Certa feita, um medico pediatra, recém chegado a Diamantina, aventurou-se a receber o cabrito, fez a peregrinação rotineira e quando chegou ao Bar do Chico Boquinha, foi dizendo: boa tarde seu...seu....seu....(esquecera o nome), mas gesticulando com os dedos, abrindo e fechando, simulando uma boca abrindo e fechando. Lembrou do apelido, por analogia, e disse: senhor Francisco Boquinha, por favor, queira me entregar um cabrito de propriedade do Mané do Brejo, que esta com o senhor. O Chico Boquinha, detestava o apelido, e vendo o incauto todo de branco, logo supôs ser medico, e foi dizendo: admira-me muito o senhor Dr. , homem inteligente, letrado, cair numa galhofa destas? Ta vendo que lhe fizeram de bobo, tem cabrito nenhum aqui não, fica esperto.
Via de regra, acabava ficando o dito pelo não dito, o felizardo ganhador do cabrito nem chiava, pois se fosse tirar satisfação, acabaria piorando a situação, dando atestado de bôbo.
Um ganhador, de Felício dos Santos, após ganhar o Cabrito, foi logo ligando para a esposa e falando: meu bem, prepara o arroz de forno ai, e a churrasqueira, convide os amigos, que vamos dar uma festa hoje, ganhei um cabrito de presente. Comprou alguns metros de corda, tomou um taxi na praça e iniciou a peregrinação. Por falta de sorte, o Chico Boquinha estava em um dia aziago e foi logo estrilando, dizendo a verdade.
O sujeito ficou uma arara, procurou o Mané do Brejo por todos os becos de Diamantina, para ser ressarcido pela corrida do taxi, e obviamente, dar uns puxões de zoreia no fanfarrão.


Causo verídico, ainda acontece de vez em quando com algum incauto.

A Conta Da Luz

A Conta Da Luz .

Considero a prerrogativa do ciúme, um ato de fragilidade Humana, falta de confiança e até mesmo um aguçado e inapropriado senso de propriedade.
Recém casado, morando em um porão em que parte da copa servia de escritório, La estava à prancheta com o Projeto em desenvolvimento e ao lado uma estante, onde ficavam os apetrechos.
Um amigo de longa data, havia montado uma Farmácia em Diamantina, com a cara e a coragem, nada mais que isso. E sempre andava as voltas com alguns títulos protestados ou em vias de serem protestados.
As 08:30 minutos de uma fatídica sexta feira, eis que este amigo bate a minha porta. Minha esposa o atendeu, convidou-o adentrar a casa e levou-o ao escritório. Feitas as saudações, o amigo foi logo dizendo a que veio: Necessito de um empréstimo urgente, em dinheiro, porque estou com alguns títulos vencidos em cartório e assim sendo, não posso comprar mais mercadoria a prazo.
Perguntei ao meu velho amigo, de quanto necessitava naquele momento e ele prontamente disse: quinhentos mil cruzeiros me quebra o galho!!!!
Pensei, pensei, ponderei e respondi: Fulano, quinhentos mil não posso lhe emprestar hoje, visto que, ao que parece , você adivinhou a quantia que me resta no Banco, mas posso lhe emprestar quatrocentos e cinqüenta mil cruzeiros, esta bom assim, perguntei ao amigo. E concomitante a minha resposta tentei explicar o motivo de não emprestar a quantia toda pedida, e sim 90%, disse: amanhã bem cedo viajo para Capelinha, Minas Novas e Taramandiba com a finalidade de entregar alguns projetos e preciso abastecer o carro com gasolina, pagar hotel nestas cidades e claro, um dinheirinho para a cerveja e ainda tenho que fazer um sortimento de viveres para a casa, e creio que cinqüenta mil serão suficientes para estes gastos.
Por uma infelicidade, vi em cima da estante ao lado da prancheta, uma conta de luz e disse ainda ao meu amigo: Ah, ainda tenho que pagar esta conta DA LUZ.
Neste exato momento, em que proferi a frase: pagar a conta DA LUZ, adentra ao escritório, minha esposa com vassoura na mão, pois a mais de meia hora estava a varrer o mesmo local, escondida e escutando a nossa proza: dedo em riste foi inquirindo o meu amigo: quem é esta tal DA LUZ, fulano? Vai ter que me dizer agora!!! E admiro muito você, amigo de nossa família, de longa data, alcovitando RAPARIGA para meu marido, vindo a nossa casa buscar dinheiro para ELA.
Bom, o meu amigo ficou alguns instantes estarrecido, paralisado e sem entender do que se tratava, eu que já estava acostumado, percebi no exato momento, visto que, por ciúmes, fui acordado varias vezes durante meu sagrado sono, em que balbuciava alguma palavra ou frase desconexa, pela minha esposa, inquirindo-me quem era fulana ou beltrana, ao que sempre dizia: não sei, foi um sonho, e é propriedade particular.
Quando o meu amigo apercebeu-se que se tratava de uma verdadeira cena de ciúmes, ele que estava encostado na parede, iniciou uma crise de risos desmesurada, e obviamente minha esposa ficou furiosa com a reação dele, levando o dedo em riste em direção ao seu nariz e dizendo: Vai me dizer quem é esta tal de DA LUZ ou não vai? Foi uma cena Dantesca, o meu amigo agachou-se de tanto rir e depois, tentando explicar o inexplicável, apontando para a estante a conta DE LUZ e não DA LUZ. , mas como ria a cântaros, não conseguia explicar o evento, apenas ria.
Neste momento, preenchi o cheque com a exata quantia de quatrocentos e cinqüenta mil cruzeiros, entreguei ao meu amigo e disse: vá em paz, não adianta tentar explicar, não vai adiantar nada.
Por longos anos a fio, sempre me foi perguntado quem afinal era a tal DA LUZ, obviamente não valia a pena responder.
Hoje, passados 37 anos, a minha esposa e este amigo meu, não se furtam em contar este caso hilariante e inverossímil aos amigos.

Causo verídico ocorrido na década de 70











Argel Dias de Azevedo, pardo de olhos verdes, oriundo das paragens de Sabinópolis, viera ainda jovem estudar no Seminário Arquidiocesano de Diamantina, com os Padres Lazaristas.
Contava que no refeitório do Seminário, recitava-se a Ilíada em Latim e Grego. Foi um revolucionário para sua época. Por um acaso da natureza, apesar de agnóstico por excelência, tornei-me seu amigo, havia um respeito mútuo pelos Dogmas pessoais e mesmo a falta destes e foram longas noites de prosa e causos interessantíssimos, entre uma dose da generosa água que passarinho não bebe e tira gosto de queijo do Serro. Fez Bodas de Ouro de Ordenamento ainda na ativa, morreu perto dos cem anos.
Em um raio de 300 quilômetros rumo ao Norte de Minas, só existiam dois engenheiros, um era Prefeito de Diamantina e o outro, esposa de um médico em Araçuaí. Eu fazia Projetos Arquitetônicos , na década de 70, que eram financiados pela Caixa Econômica Estadual e viaja constantemente a varias cidades do Vale do Jequitinhonha, elaborando Projetos.
O Padre Argel, pedira para levá-lo em uma destas viagens, queria visitar um velho amigo e professor, o Padre Emiliano, na cidade de Minas Novas. Emiliano era de cor, traços finos, educadíssimo, um verdadeiro filósofo, assim como o Padre Argel.
Data marcada, empreendemos a viagem que foi hilária. Cinco pneus furados no meu velho corcel. No meio do caminho, eu disse ao Padre Argel, que o irmão dele de criação, o João Diana, encontrava-se no Distrito de Senador Mourão, executando o Projeto de eletrificação, que eu havia elaborado. Como não tínhamos pressa, paramos para uma suposta visita rápida. Ledo engano.
Paramos na casa da Dona Julia Tibães, Profa aposentada, onde o João Diana estava hospedado. Quando apresentei o Padre Argel a Dona Julia, foi um alvoroço. Logo um convite para um lauto almoço regado a paca, carne de panela, leitão assado, vinho etc. Antigamente os Padres eram tratados com uma deferência especial, eram como alta autoridade, reverenciados e paparicados ao extremo. Lá pelas tantas do almoço, senta-se a mesa um visitante, calado, mas bom de garfo, comeu até empanturrar-se. O almoço durou aproximadamente duas horas de mesa corrida. O visitante já meio avexado pela hora, levantou-se e disse: D. Julia, muito obrigado por este banquete, mas tenho hora marcada, hoje comi que nem um Padre. D. Julia corou-se, o Argel delicadamente perguntou ao visitante: meu filho, ao sentar-se a esta mesa, você rezou? Agradeceu a Deus a comida? Não senhor, respondeu o visitante. Então o Argel disse: você comeu não como um Padre, mas sim como um barrão (porco gordo), todos soltaram festivas gargalhadas. O sacripanta, jamais imaginara que aquele homem pardo, baixinho, de olhos verdes, com camisa de colarinho puído e paletó sujo de poeira, fosse um Padre.
Feitos os agradecimentos pela lauta refeição, rumamos para a cidade de Minas Novas.
Naquela época, a estrada não era asfaltada e a poeira era uma coisa terrível, fina, vermelha em determinados trechos, chegava a mais de um palmo de altura.
Chegamos a Minas Novas, onde o Padre Emiliano morava. Tomamos uma pensão, eram aproximadamente 19:00 horas. Tomei um belo banho e o Argel disse que àquelas horas, banho poderia constipá-lo, e apenas lavou as mãos, o rosto e sentou-se a mesa para o jantar. Foi o primeiro a sentar e o ultimo a levantar. Lá pelas tantas, fazendo-lhe companhia a mesa, vi a Dona da pensão fazendo gestos, chamando-me em particular. Atendi ao seu chamado em reservado, na cozinha. Ela disse-me apreensiva: senhor, olha, não fazemos caso de comida aqui na nossa pousada, ficamos até satisfeitos em saber que os hospedes gostam da comida, mas o seu Pai, esta exagerando, pediu-me mais uma travessa de carne cozida com abobora, disse que estava deliciosa, e o problema é que nós não temos médicos na cidade, ele viaja toda sexta feira e o seu Pai, pode passar mal à noite, ter uma indigestão!!!! Dei uma risada marota e respondi a Dona da pensão: fique tranqüila senhora, por dois motivos digo-lhe isto: primeiro ele não é meu Pai, mas um amigo de longa data e segundo, ele esta acostumado a comer bem, pois é PADRE. Arrependi amargamente de ter dito que o Argel era Padre, pois a partir deste momento, veio carne grelhada, frango assado, carne de porco, e Argel, não se fazendo de rogado, mandou ver. A estas alturas, eu que fiquei preocupado, com o tanto que ele comeu, à noite.
Na manhã seguinte, fomos visitar o Padre Emiliano, já enfermo no seu catre de morte. Dissera-nos o seu médico, que o coração estava por um fio e que ele, o próprio Emiliano, previra que iria morrer dentro de 15 dias, as 23:50 minutos. Marcou dia e hora para sua morte e de fato ocorreu como previsto. Era considerado um Santo. Mantinha sob suas expensas, uma creche com aproximadamente 50 meninos. Era considerado o Hobim Hood do Sertão Baiano, quando militara naquelas paragens, tomava dos Ricos para dar aos pobres.
Causo verídico, ocorrido na década de 70









Francisca da Silva de Oliveira, a famosa Chica da Silva, foi uma escrava alforriada, que viveu no arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda metade do século XVIII.
Mulata formosa, prendada estéticamente, fora propriedade do Padre Rolim, Inconfidente Mineiro, até ser alforriada por este, a pedido do novo Contratador de Diamantes, João Fernandes de Oliveira.
Acerca da Chica, corria no Tijuco a boca miúda, algumas lendas, causos interessantes, modus vivendi.
Era amancebada com o homem mais famoso destas plagas, o Contratador João Fernandes de Oliveira, com o qual teve 13 filhos. O Contratador já era um homem rico, dono de uma quadra inteira de casas no bairro do Chiado, em Portugal, e várias quintas. Por estas plagas, e pelo cargo que ocupava, aumentou muito sua fortuna.
O contratador João Fernandes construiu um Palácio com vinte e um cômodos, onde havia um jardim com plantas exóticas, cascatas artificiais. Como a Chica da Silva não conhecia o mar, João Fernandes mandou formar um lago artificial e construir um navio à vela, que navegava no lago transportando os convidados das grandes festas que oferecia à sociedade local. Essas festividades eram animadas por uma orquestra particular e pelas apresentações de teatro.
A Chica da Silva era semi analfabeta, mas tornou-se uma mulher riquíssima, freqüentava a Igreja carregada por escravos em Liteiras, com um séquito de 10 mucamas finamente bem vestidas e ornadas com jóias e Diamantes.
Uma vez, mandou arrancar todos os dentes de uma escrava que lhe servia, simplesmente porque o seu amante elogiou os dentes da dita escrava.
Também era famosa a blague que dizia: O peido que minha sinhá deu, foi ela não, fui eu. Quando a Chica da Silva soltava um pum, prontamente uma escrava assumia a autoria.
A Igreja do Carmo
João Fernandes de Oliveira o contratador amancebado com uma escrava Chica da Silva, desentendeu-se com os membros da Ordem Terceira do Carmo, que estavam a construir a Igreja do Carmo, tendo que arcar sozinho, com as despesas da Construção, e foi assim que ordenou a construção da Torre mestre nos fundos da Igreja, para que sua amada pudesse freqüentar a Igreja, visto que, era Lei naquela época; os escravos, mesmo os alforriados, não poderiam ultrapassar a Torre da Igreja, deveriam assistir as missas do lado de fora da Igreja. Além da Torre nos fundos da Igreja, os altares laterais, o altar mor e a nave, foram pintados a Ouro e mandou construir um lindo e potente Órgão na entrada, movido a fole, com mais de 750 cânulas, confeccionado no Tijuco por um artífice Padre.
O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos. Chica da Silva foi uma escrava que se fez Rainha, utilizando sua beleza e apetite sexual invulgares para seduzir pessoas poderosas, entre as quais João Fernandes de Oliveira o Contratador dos Diamantes, cuja fortuna dizia-se ser maior do que a do rei de Portugal.
O Tijuco, era uma província Mineral, que sustentou Portugal por décadas a fio, com sua altíssima produção de Ouro e Diamantes, pagando inclusive a proteção Espanhola, contra pirataria Inglesa. Sustentou por longo período o fausto da Coroa Portuguesa.
E assim sendo, a província do Tijuco, transformara-se em um Estado dentro do próprio Estado, reportava-se diretamente ao Rei de Portugal. Tinha Leis próprias, não era submetido ao comando do Governador Geral da Capitania das Minas Gerais, o que causava enormes ciúmes e intrigas. Este poder exercido pelo Contratador, de vida e morte, de deportação, prisão, confisco de bens, desapropriações e o que mais necessário fosse ao bom andamento dos trabalhos exploratórios mineiros de Diamante e Ouro. Existia o famoso Livro da Capa Verde, que nunca foi encontrado, contendo todos os atos e Decretos dos Contratadores.
A exploração mineral no Tijuco, teve duas fases distintas: a primeira sobre o modelo de contrato de arrendamento, pagava-se antecipadamente uma quantia determinada em dinheiro por um lote Diamantino e o que fosse produzido naquela área, estaria livre de tributos. Em uma segunda fase, mudou-se o regime de exploração, passando ao famoso “quinto”, significava que a quinta parte do que se produzia era para a Coroa Portuguesa, um royalite de 20% sobre a produção bruta, sem descontar os custos operacionais. O “quinto”, foi um dos motivos maiores da trama da Inconfidência Mineira, que levou vários personagens ao Degredo na África, como o Padre Rolim, a morte por enforcamento de Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, a prisão do Poeta Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.
Imaginem, naquela época, fizeram uma revolução por conta de 20% de impostos, e hoje, pagamos algo em torno de 38% e ninguém diz ou faz absolutamente nada.
A evasão de divisas e a sonegação dos tributos eram altíssimas e fez surgir o famoso “Santo do Pau Oco”, que eram imagens de Santo, com furos no pedestal para esconder Diamantes e contrabandear para Portugal sem pagar impostos.

A Maria Fumaça e os Integralistas






A cidade de Corinto em Minas Gerais, foi outrora um entroncamento ferroviário de muita importância. Fazia interligação do Norte Mineiro com o Brasil. Eram Maria Fumaça expelindo a fuligem, movidas a lenha, depois as locomotivas a Diesel.
De Belo Horizonte a Diamantina, um dia inteiro de viagem, com uma parada generosa em Corinto para baldeação, ou seja: a troca de maquinas e do comboio.
Nos idos de 1950, fora programado um evento em Diamantina, por parte dos Integralistas, um partido político em voga a época. Integralistas, para quem não lembra, eram os adeptos do Partido do Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira, vestiam farda verde e cumprimentavam-se estendendo a mão direita como Hitler, dizendo: Ana ué, Ana ué.
Pois bem, nesta mesma época, os Correios e Telégrafos tinham uma importância primordial nas comunicações entre os rincões do Brasil, e tinha um vagão especial e exclusivo para carregar as malas, as encomendas, cartas etc. O Chefe do Carro (assim eram denominados os vagões) dos Correios na época, era um tremendo flautista,fazia blague até com a própria sorte, conhecido de todos e em todas as paragens pelas corruptelas , fazendas, Vilas etc. . Servia às vezes de pajem, levava e trazia recados, encomendas particulares a favor e as vezes, até pessoas. Leitões e samburá de galináceos, não faltavam.
A Estação Ferroviária de Corinto estava repleta de Integralistas, todos vestidos a caráter, de verde, a espera da Maria Fumaça para irem a Diamantina realizar um Congresso.
Eis que, inabitualmente a locomotiva não deu sinal de parar na Estação Ferroviária, apesar de estar a marcha lenta. Assim pensando , que a composição não iria parar por alguma razão na dita Estação, o Chefe do Carro dos Correios, estendeu o corpo para fora do vagão, e dedo em riste praticamente roçando os narizes Integralistas, foi dizendo em alto e bom tom: PAPAGAIADAAAAAAAA.  Obviamente por estes, os Integralistas, estarem vestidos de verde. A Locomotiva andou uns 300 metros a frente da Estação, parou e voltou para estacionar.
O Chefe do Carro dos Correios, teve que se trancar no banheiro da composição, para não ser linchado, pelo alto insulto proferido aos Integralistas.











O Monsehor e as Pirâmides do Egito




Tradicional família Mineira, no século passado, em Diamantina era constituída via de regra por: um Padre, um Musico e um Literato.
Monsenhor Gabriel Amador dos Santos foi fazer escola Teológica em Roma. Chegou a ser Chanceler e confessor Papal.
Como premio pelos estudos, ganhou uma viagem de lazer ao Egito, juntamente com outros Padres.
Chegando ao Egito, empreenderam uma maratona de visitas a Museus, Igrejas, parque Arqueológico, e como de praxe, não poderia faltar uma visita solene as famosas pirâmides de Quefren, Quéops e Niquerinos.
Contrataram os prestimosos serviços de transporte, ao lombo de Camelos, e partiram a tão esperada visitação ás pirâmides.
Eis que um imprevisto surge no caminho!!! Um dos Camelos, a moda Brasileira do asno (Equus asinus), chamado ainda de burro, jumento, ou jegue, cismou de empacar nas escaldantes areias do deserto. O pobre GUIA fez de tudo, gritou, pediu, acoitou, apedrejou o Camelo e nada, o danado não arredava o pé. Estava lá prostrado como quem dissesse: Daqui não saio, Daqui ninguém me tira.
Depois de mais de meia hora de peleja, eis que o GUIA , já meio injuriado com a pirraça do Camelo, profere a solene sentença: Seu bastardo, e relou a pedra 90, Camelo de uma peste, embirrento, ta parecendo um Jumento!!!!
O detalhe interessante desta passagem, foi que o GUIA, proferira o xingatorio ao pobre Camelo, em claro Português, para espanto dos presentes e principalmente Padre Gabriel. Numa terra longínqua, nos confins do mundo, achar um GUIA falando Português claramente, era uma coisa inusitada.
Assim que o GUIA proferira o xingamento ao Camelo em Português, Monsenhor Gabriel interferiu e interpelou o GUIA: Meu filho, você é Brasileiro? Sim senhor Padre, sou sim. Em que cidade nasceu no Brasil?, Perguntou o Mons. Gabriel. Nasci em Diamantina, Minas Gerais. E seus Pais, quem são em Diamantina? Fulano e fulana de tal, respondeu o GUIA. Conheço muito, celebrei o casamento deles, também sou de Diamantina. Monsenhor Gabriel, muito espirituoso, sugeriu ao GUIA, falar bem baixinho com o Camelo e bem perto das suas zorreias.
Como que por milagre, logo após este colóquio, o Camelo resolveu desempacar, e seguiram viagem.
De volta ao Brasil, Monsenhor Gabriel foi residir no Palácio Episcopal da Arquidiocese de Diamantina. Certa feita, acordou aturdido pensando estar atrasado para a Missa das 05:00 horas na Catedral, vestiu-se correndo e saiu apressadamente para seu compromisso. Passou defronte a Igreja do Carmo e viu uma missa sendo celebrada, com pessoas muito bem vestidas, a caráter, mas fora de época, a Igreja muito iluminada e um Padre que ele sequer conhecia, mas como estava atrasado, não parou para ver.
Chegando bem próximo a Catedral, onde ele celebrava todos os dias a Missa das 05:00, encontrou-se com um dos boêmios assíduos que de pronto perguntou: Monsenhor, onde o senhor vai a estas altas horas? Vou celebrar a Missa meu filho, das 05:00 na Catedral. O boêmio estranhou a atitude e disse: mas Monsenhor ainda são 02:00 da madrugada, ta meio longe do seu horário ainda, não? Vixiii, será que errei à hora? Respondeu Monsenhor. Com certeza errou e muito, pois são exatamente 02:00 da madrugada.
Conferido o horário, voltou juntamente com o boêmio fazendo-lhe companhia e disse a este: vou aproveitar e assistir uma Missa que esta sendo celebrada na Igreja do Carmo. Quando la chegaram, não havia ninguém, tudo na maior calmaria, Igreja fechada. E isso, em questão de minutos e alguns metros de distância da Igreja do Carmo.
Causo verídico, ocorrido em Diamantina na década de 30.





Causo do Chuveiro




Em todas as cidades do Brasil, existem pessoas que entram para o folk Loren local e até Nacional, com suas bizarrices, manias, tiradas especiais e até filosofias.
Em Diamantina existe o famoso Cazuza Funil. Galhardo, alto, feio de fazer dó, e despossuído de toda sorte. Vive dirigindo um caminhão Mercedes Benz, ultimo modelo, passando marchas , pelas ruas da cidade. Obviamente, dirigindo gestual mente e fazendo o barulho das trocas de marchas e freadas bruscas, com a boca.
De quando em quando, alguém, por sacanagem dá sinal para parar, ele dá uma freada e pergunta: o que foi? Já vem vc pedir carteira motorista? Já falei que tirei mas o DETRAN não entregou ainda. Aí a pessoa que parou o Cazuza diz: esta forreca ta fundindo, tá soltando muita fumaça rsrsrsr, no que prontamente a resposta vem na ponta da língua: você esta com inveja porque não tem um caminhão zerado igual a este!!!!
De quando em quando, o Cazuza é intimado por uma senhora boníssima, caridosa, a tomar banho em sua casa, isto digamos uma vez por semana ou a cada 15 dias.
Em um destes banhos, o Cazuza grita la de dentro do toalete: Dona Maria, Dona Maria, chuveiro ta saindo fumaça pelas ventas, pegando fogo. A Maria Estefânia, viúva a longos anos, diz ao Cazuza: enrole na toalha e abra a porta, por favor que vou ver o que aconteceu. Assim que a porta foi aberta, e a Dona Maria adentrou o recinto, levou um susto tremendo, ficou desfalecida, custou recobrar os sentidos. O Cazuza simplesmente ao invés de enrolar-se na toalha e abrir a porta, enrolou o chuveiro com a toalha rsrsrsrs e abriu a porta, e assim que a Dona Maria entrou e viu aquela figura despida, com os documentos avantajados a simples vista, a pobre senhora por pouco não desmaia, ela disse ao Cazuza: Falei para você enrolar a toalha em você Cazuza e não no chuveiro, no que ele disse: a senhora não explicou direito UAI, eu achei que era para enrolar a toalha no chuveiro.




Saudosa Maria Fumaça



Naqueles bons tempos, em que raramente algum cidadão Diamantinense empreitava uma viagem a Capital do Estado, não havia ônibus, apenas o trem de ferro, que descia singrando a serra do Paraúna, numa lentidão continua, gastava-se exatamente um dia de viagem.
Quando chegava ao destino, o passageiro estava todo empoeirado de fuligem de carvão, a locomotiva ainda era a famosa ” Maria Fumaça” movida a lenha, apelido apropriadissimo visto que ia expelindo fumaça pelo caminho.
Havia até o famoso guarda pó, para aqueles viajantes mais assíduos, era como um jaleco de médico, vestia-se logo no inicio da viagem e chegando ao destino, este já estava preto de fuligem, preservando a roupa.
As viagens de trem de ferro, eram como uma verdadeira maratona, alem de lenta, existiam várias paradas, em corruptelas, vilas, fazendas, povoados e mesmo no meio do nada, para abastecimento de água e lenha.
O que sempre me lembro, era do cheiro especial das manzanas (maçãs) Argentinas, um cheiro especial, delicioso, característico, vinham embrulhadas em papel roxo.
Uma espécie de garçom, passava de vagão em vagão, oferecendo , em uma cesta de vine, as especiarias: biscoito de goma, biscoito quebrador (de polvilho), guaraná Antárctica e chocolates vários. Era como uma festa verdadeira, oportunidade única de saborear uma maçã e tomar um guaraná Antárctica.
Detalhe: existiam três categorias de vagões de passageiros: primeira classe, com poltronas alcochoadas, reclináveis, macias, vagão limpissimo, cortinas de renda nas janelas, tratamento VIP, a segunda classe bem próxima da primeira, com bancos de madeira forrados com espuma e couro apenas, não eram reclináveis, nem tão macios eram.
Obviamente, a terceira classe, era um desastre verdadeiro, a passagem custava menos da metade do preço, e os bancos eram de madeira pura, sem forro, tipo bancos de praça. As janelas, via de regra eram empenadas, não abriam para ventilar o vagão, e quando abriam, não tinham a cortina para tapar o sol e o garçom, com as famosas manzanas Argentinas, sequer se dava ao trabalho de visitar o vagão.
Famoso Mascate de Diamantina, tendo que ir a Belo Horizonte, passa na porta da Joalheria centenária da família Pádua, e dirige-se ao proprietário todo solícito: Toninho, estou indo a Belo Horizonte agora, você deseja alguma coisa da Capital? Algum recado, alguma encomenda? O Toninho Pádua, disse: muito obrigado fulano, boa viagem.
O viajante insistiu, o Toninho muito espirituoso e na presença de varias pessoas disse: aliás, quero sim fulano, por favor diga ao meu irmão em Belo Horizonte na Joalheria tal, que estou com umas encomendas de jóias prontas aqui para ele, só esperando um portador de confiança para mandar.
O viajante, naquele momento, não entendeu a galhofa e disse: ok, darei seu recado.
Andou uns 100 metros, a ficha caiu ele voltou e disse ao Toninho: mas escuta aqui, eu não sou de confiança? Se sirvo para levar recado, sirvo também para levar a sua encomenda de jóias?
O dono da Joalheria, apertado com a brincadeira disse: não fulano, preocupe não, é que meu irmão é muito sistemático, e se eu enviar a mercadoria por pessoa estranha, que ele não esta acostumado, ele não recebe, manda de volta, tendeu? rsrsrsrs





Óleo de Copaíba – Remédio natural contra o Câncer?




A cultura do conhecimento, você aprende em um banco de universidade, ainda assim um tanto quanto limitada, específica.
A universalidade do conhecimento, adiquirimo-la com o passar dos anos, com a vivencia voltada ao aprendizado diário, e ao estarmos aptos a recebe-la, a ouvir os mais velhos, a proza diária na esquina, nas rodas etc.
Alguns dizem que conversa de botequim, via de regra, são infrutíferas, discordo plenamente!!!!.
Certa feita, provando uma branquinha, me foi apresentado o Seu Ângelo, juiz de Paz e velho raizeiro do Distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras.
Fiquei encantado com tanta erudição, com a sua cultura , maneira simples de falar e o mais importante: aquela vontade de fazer o bem sem olhar a quem, ser prestativo, ajudar. E olha, que ele só havia terminado o curso primário.
Em outros encontros, eu puxava conversa, sobre plantas fitoterápicas. Perguntei-lhe um dia sobre o Canguçu Branco e sobre o Canguçu Preto. Foi a gota dágua, ele desfiou um rosário de outras plantas e suas indicações. A pergunta sobre o Canguçu Branco, foi para confirmar o que já havia visto e presenciado.
No Garimpo do Ribeirão do Inferno numa manhã, uma cobra Jaracuçu Correia, picou meu cachorro de nome “Presidente”, estávamos na era da ditadura e não da ditabranda como disse a Folha de São Paulo.
Quando cheguei ao rancho da cozinha, vi o “Presidente” estirado no chão ofegante, completamente imóvel e babando, perguntei o que havia ocorrido e logo um peão disse: cobra peçonhenta picou o bichinho, vai morrer logo !!!.
Neste exato momento chega o Jarbas meu Garimpeiro Mestre, com um punhado de Raiz de Canguçu Branco, ele havia ido ao mato e apanhado a raiz para ministrar no cachorro.
Falei : Jarbas, olhe o “Presidente”, cuide dele enquanto vou a cidade buscar um soro anti ofídico, no que o Jarbas falou: não precisa, dentro de meia hora ele estará bom, correndo pelos campos, eu disse: mas como não precisa Jarbas? O cachorro está agonizando, é possível que sequer dê tempo de ir a cidade em busca de soro !!!
O Jarbas era profundo conhecedor de raízes, vivera sempre no mato, poucas vezes ia a cidade, remédio alopata nunca tomou, ele me disse textualmente: Fique tranquilo , esta raiz de Canguçu Branco, vou raspa-lá e misturar com leite e no maximo em meia hora, o cachorro estará bem.
Eu calculei o seguinte: iria demorar mais de uma hora para chegar a cidade, outra hora para voltar, mais meia hora para comprar o soro anti ofídico, assim sendo, no mínimo gastaria duas horas e meia.
Resolvi acreditar no Jarbas, ele mesmo me dissera que já havia sido ofendido (picado) por uma cascavel e tomado o Canguçu Branco.
A meia hora se passou e eis que o”Presidente” estava de pé, meio cambaleando, mas estava e algum tempo depois, já estava correndo pelo campo.
Depois perguntei a diferença do Canguçu Branco para o Preto, o Jarbas me disse textualmente: são parecidos, mas o Preto é altamente venenoso, mata na hora, se pegar errado no mato, ao invés de curar, você mata na hora, ou o bicho ou a pessoa que for tomar.
O causo acima, lembrei por conta de uma pesquisa que fiz na internet, sobre o fantástico e milagroso Óleo de Copaíba, ou Pau D´óleo .
O Senhor Ângelo, me contou que antes da segunda Guerra mundial, não existia ainda a Penicilina, e ele tratava as pessoas da Vila de São Gonçalo do Rio das Pedras, que contraíam Gonorréia (blenorragia), com Óleo de Copaíba e chá de Rosa Branca, assim como a tuberculose.
Segundo pesquisas do Dr. Paulo Imamura da Unicamp ,Universidade Estadual de Campinas São Paulo, a Copaíba (Copaifera sp) ou Copaibeira, pertencente à família da Leguminosae-Caesalpinioideae, esta em estudos avançados e com excelentes resultados iniciais, in vitro, contra 9 (nove) tipos de Câncer.
O Óleo é duas vezes mais potente que o diclofenato de sódico.
Abaixo alguns links, a quem interessar, para um estudo mais aprofundado, creio valer uma leitura, para simples conhecimento.

Em uma próxima oportunidade, relatarei mais causos de fitoterápicos.


Assombração e Cobra de Vidro



Causos do Garimpo.
Assombração e cobra de vidro.
Peãozada do garimpo, adorava uma branquinha, obviamente as escondidas.
Os sacripantas compravam nas fazendas vizinhas ao garimpo, e escondiam no mato, nas moitas. A noite se esbaldavam na marvada, a cada 10 ou 15 minutos, desapareciam da rancharia, sumiam no mato e voltavam com aquela cara alegre, lambendo os beiços.

Eu sabia, mas não podia fazer nada. O pinga era proibida no garimpo, pelo menos, durante o expediente de trabalho.
Um amigo foi visitar-me , passando um dia corrido. A certa altura , na hora do jantar , ele me perguntou: você tem uma pinga da boa aí, para abrir o apetite? Eu disse: eu não tenho, pinga no garimpo é proibido; mas, se você perguntar a qualquer peão aqui ele com certeza absoluta, lhe oferecerá um trago. Só tem um detalhe: a pinga fica no mato, escondida e você terá que se deslocar até onde está a marvada.
O problema maior, eram as pescarias à noite, na verdade, peixe não pegavam nenhum, uma turma grande se deslocava para a beira do rio, com a desculpa de pescar, e tomavam todas a que tinham direito.
A questão era que, no dia seguinte, as 06:00 da manhã, já estávamos de pé, tirado o jejum com uma farta e lauda refeição de feijão tropeiro e em seguida íamos à faina.
Aqueles que se exaltavam na branquinha, costumavam acordar atrasados e perder a hora, e obviamente, era um trabalho rústico, seqüencial, dependia de toda a turma junta .
Uma noite, a minha cozinheira chegou a rancharia toda descabelada, falando com a língua enrolada, perguntei a ela: onde você estava Rita? Tomando todas é? Ela sequer respondeu, foi deitar-se.
Pensei, estão extrapolando, até a cozinheira eles já cooptaram!!!
Peguei uma prancha de madeira de mais ou menos dois metros de comprimento, por quarenta centímetros de largura, apanhei cinco velas no maço, e rumei para a beira do rio, um pouco acima onde a peãozada estava reunida.
Lá chegando, coloquei a tábua no rio, acendi as cinco velas e soltei rio abaixo. Fui de mansinho, sem fazer barulho, com algumas pedras nos bolsos previamente escolhidas, pedras arenosas, quando atiradas se desmancham, para bem perto onde eles estavam reunidos.
Assim que viram a tabua de madeira descendo o rio, com as velas acesas, logo ficaram apreensivos, detalhe: uma escuridão terrível, mal se enxergava um palmo adiante do nariz.
Alguém logo disse: é um caixão descendo o rio com um defunto, vamos embora, isto é assombração!!!!
Um alvoroço danado, neste exato momento, joguei umas duas pedras arenosas, e estas, ao se desmancharem ao bater nas arvores, transformavam em pequenos grãos, e acertando alguns peões, que de pronto iniciaram uma gritaria e correria, dizendo estarem sendo alvejados pelo defunto e seus asseclas.
Simultaneamente, havia gravado algumas vozes, eu mesmo fiz a gravação, com nome de alguns garimpeiros, como o do Sebastião, e liguei o gravador, bem baixinho, atrás de uma arvore, e este passou a sussurrar: Sebastiãooooooooooo, Nonatooooooooooo, me ajudemmmmmmmmmmm .!!!!!!
Olha, sem exagerar nem aumentar um milímetro, houve peão que borrou as calças, teve que tomar banho ao chegar ao rancho.
O mais engraçado, foi exatamente a falta de solidariedade entre eles, naquele momento, que o gravador iniciou sua fala, saíram todos em disparada, como se fosse: cada um por si, e Deus por todos rsrsrsr.
O problema maior, foi que um peão desmaiou de susto e foi literalmente abandonado pelos demais, deixado no caminho na mata. Eu vinha logo atras, com o gravador na mão e uma lanterna de pilha ligada, quando deparei com um peão estirado no chão.
Minha preocupação maior, eram os seus batimentos cardíacos, assim sendo, abaixei e peguei o braço dele apertando-lhe o pulso, para sentir os batimentos cardíacas, estes, deveriam estar na ordem de 200 por minuto.
Creio que fiz uma pressão mais forte no braço do peão, para poder sentir as suas pulsações, e neste exato momento, ele acorda, vê alguém segurando-lhe o braço apertadamente, no escuro, da um grito de pavor, dispara numa corrida e some no meio da trilha, e eu atras com a lanterna chamando-o, creio que deve ter atingido a velocidade aproximada de uns 60 km por hora, a pé fez até rastro de poeira rsrsrsrs.
Alguns minutos após, dei uma volta maior, e fui ao meu rancho guardar o gravador e a lanterna.
Dirigi-me a rancharia da cozinha, e estavam todos lá, tomando água com açúcar e café, alguns brancos, outros calados, todos macambúzios.
Perguntei se estavam todos bem, disse que havia escutado alguns barulhos estranhos, vozes estranhas, mas ninguém falou absolutamente nada, todos se locupletaram e ficaram calados.
No dia seguinte, só se ouviam cochichos, nada mais rsrsrs, nesta brincadeira, acabei perdendo um peão, ele pedira as contas, justo o que borrou as calças.
E nunca mais, ousaram ir a beira do rio, para se esbaldaram na branquinha!!!!
Causo verídico, com testemunha ocular de vista (e pleonasmo tb) ocorrido no Rio Jequitinhonha, na década de 80.









Durante mais de 20 anos trabalhando com garimpo , tanto quanto rudimentar, com bombas de 6″ de sucção, fazendo dezenas de catas, buracos, desviando vários rios do seu curso natural, em busca de Diamantes, no Vale do Jequitinhonha, Mato Grosso e Bahia, colecionei algumas preciosidades, foi um aprendizado contínuo, sempre alguém ensinando alguma coisa nova, técnicas, filosofia de vida e causos interessantíssimos.
É como dizia um velho amigo garimpeiro: temos que estar com as zoreia de pé, para aprender, dizia mais: Cavalo da sorte passa arriado na nossa janela pouquíssimas vezes, e se estivermos ocupados com coisas pequenas, acabamos não vendo e desperdiçamos a oportunidade!!!!
Rádio que proseava numa língua diferente.
Peão pede para levar o radio Flipes (Phillips) ao conserto na cidade, tava zangado.
Dia marcado, passei para apanhar o rádio na oficina, paguei e levei para o garimpo.
Lá chegando entreguei ao garimpeiro, que todo alegre e sorridente disse: agora posso ouvir Xitãozinho e Xororó toda noite e de madrugada também.
Dois dias depois, chega o garimpeiro , carinha meio triste dizendo: Óia doutor, este danado veio cum defeito, só fala umas língua difícil, num intendo nadica de nada qui eles falam.!!!
Pensei, danou-se, o rádio deve estar sintonizado em uma emissora de longo alcance, e obviamente, pega algum país distante, aí falei: Sebastião, me traga o bicho aqui, vou dar uma zoiada.
Rádio nas mãos, verifiquei que estava sintonizado na BBC de Londres, quando girei o botão para procurar outras estações, nada, não saia da BBC. Deduzi obviamente, que o técnico que consertou o radio, esqueceu de colocar o cordonete que vai do botão ao giroscópio do radio, para mudar de estação. Disse ao Sebastião: vá la na caixa de ferramenta e me traga uma chave de fenda das pequenas, , vou ver se consigo dar uma jeito para você.
Dez minutos depois, eis que o danado do Radio, já estava falando outros idiomas, para alegria da peãozada rsrsrsrs.
Tv que prozeia mas não mageia, e quando mageia, não prozeia.
Aos sábados , quando voltava do garimpo com parte da turma de peões, sempre havia alguma encomenda, vale a ser feito, compra de remédio para algum familiar dos garimpeiros etc. era uma gama variada de incumbências que ia desde pedaço de fumo de rolo, paia de milho, até pilha e sonrizal.
Chagando a cidade, o Nonato me disse: Doutor, o senhor poderia levar minha TV para consertar que depois acertamos? Eu disse tudo bem, vamos levá-la a oficina, mas o que tem a danada, perguntei a ele!!!
Ahhh Doutor, esta danada, quando prozeia não mageia e quando mageia não prozeia. Eu, no alto da minha ignorância, não entendo nada, guardei o recado e quando levei a TV a oficina , o técnico me perguntou o que havia ocorrido, qual era o defeito, disse as mesmas palavras do Nonato: Olha, quando esta TV prozeia não mageia, e quando mageia não prozeia, tendeu? O técnico disse: sim entendi. Ao que eu perguntei: mas afinal que defeito exatamente é este? O técnico, com cara de riso me perguntou: o senhor não sabe? eu disse: não, não sei, mas tenho uma leve suspeita rsrsrs.
Ele explicou detalhadamente: quando a TV prozeia, significa que ela fala, tem voz, e quando mageia, significa que tem imagem.
Voltou do conserto zerada, mageando e prozeando perfeitamente!!!!
Diagnóstico elaborado por verter água.
Próximo a Diamantina, no distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, a 6 km de Milho Verde, havia uma espécie de pousada e Colônia de férias, para filhos de Alemães e Suíços, dirigida pela minha amiga Ana Kuner, pessoa agradabilíssima, de um coração esplendoroso, muito simpática e educada.
Passando por la, a Ana me fez um pedido inusitado: queria mostrar aos meninos, como funcionava um garimpo, no meio do mato. Concordei, marquei um dia e fui la com a minha velha camionete Willis Owerland buscar a meninada para conhecer o garimpo.
Eram uns 20 entre meninos e meninas, todos na faixa etária dos 8 aos 15 anos aproximadamente. Verdadeiros capetinhas, todos bem nutridos, avermelhados, alguns brancos como a neve.
Lá chegando, de cara alguns foram para perto do galinheiro, outros se esbaldaram no pé de manga, e um deles voltou correndo e falou: Tio, tem um monte de monstro ali, venha ver!!! Tomei um susto danado, mas quando fui com o garoto averiguar, era exatamente o galinheiro. Ai mostrei a ele, um ovo e perguntei: vc conhece isto aqui ? Sim, é um ovo, ai eu disse: sabe de onde vem este ovo ? Ele falou: da prateleira do supermercado rsrsrs, tadinho, fiquei com pena, fui explicar que quem produzia aquele ovo, era exatamente aqueles monstrinhos de asas, fui até um ninho, pequei alguns ovos e mostrei a ele, mas creio que ele nem acreditou em mim rsrsrsrsr.
Pedi a minha eximia cozinheira, a Rita banguela, para caprichar no almoço, fazer alguma coisa leve para a meninada. Saiu um caprichado molho pardo com quiabo, angu e feijão tropeiro, a meninada adorou.
Logo depois do almoço, o Jarbas, meu garimpeiro mestre, me chamou nun canto e disse: Luciano, fala pra Alemoa (Ana Kuner, minha amiga) rsrsrs, descobrir qual menino mijou ali atrás daquela arvore!!! Curioso, perguntei ao Jarbas: mas porque Jarbas, que tem um menino urinar atras de uma arvore? Isto é normal, não temos mictórios aqui. Ele me disse, venha cá, venha ver com seus próprios olhos!!!
Fui com o Jarbas ver “in loco”, a tal mijada. Chegando la, vi uma área no chão, molhada em forma de circulo, lotada de formiga. Naquele exato momento, decifrei a charada, formigas adoram açúcar, e esta urina aqui, deve estar cheia de glicose. O Jarbas me disse seguinte: quando alguém urina e junta formiga, com certeza absoluta a pessoa tem mal do açúcar no sangue.
Obviamente tratava-se de um caso de diabetes, de uma taxa de glicose alta.
Chamei a Ana Kuner, mostrei-lhe as marcas da mijada e o circulo de formigas ao seu redor, e pedia a ela para identificar qual criança havia feito xixi ali, e posteriormente, leva-la ao médico para uma anamnesia mais detalhada.
Assim ela fez, levou a criança ao médico em Diamantina, este pediu uma dosagem de glicose, e descobriu, o que nem mesmo a família do garoto sabia, ele estava com diabetes, a glicose bastante alta.
E vejam o perigo, na pousada da Ana, havia uma gama variada de doces, marmelada, goiabada, doce de leite, que a meninada adorava e se lambuzava.
Quando a Ana levou o garoto ao médico, e disse estar suspeitando que o mesmo estava com diabetes, o médico a perguntou, baseada em que ela estaria com esta suspeita, ela contou o ocorrido, mas o médico provavelmente não deu a menor atenção, talvez nem tenha acreditado.
Melhor prognóstico de chuva
Antigamente, antes dos satélites de previsão meteorológica, existia a famosa folhinha Mariana, elaborada pelos Monges Capuchinhos, e era batata, não mascava, exceto em algumas ocasiões, e obviamente, era um tanto quanto genérica em termos de região.
Chegando ao sábado, iria levar toda a turma do garimpo para a cidade, ficava apenas alguns para tomar conta da rancharia, e das máquinas.
Fim de tarde de sábado, peãozada tomando banho, em ritmo de cantoria, o Jarbas , meu garimpeiro mestre chamou-me e disse: seria melhor retirar o motor Mercedes 1113 da Bomba e elevá-lo na talha, suspende-lo bem acima do curso normal do rio, pois iria chover muito naquele fim de semana e se o motor ficasse naquele lugar, tomaria água, ficaria submerso.
Olhei para o céu, não vi uma única nuvem sequer, nenhum sinal aparente de chuva, perguntei ao Jarbas: como você sabe que amanhã vai chover ? Ele me disse calmamente, você não viu a andadura das formigas? Eu disse: e o que tem haver a andadura das formigas com a chuva que está por vir amanhã Jarbas? Ele, o Jarbas me explicou e mostrou as formigas cabeçudas, andando em fila indiana, apressadamente, em um ritmo fora do normal, fora do habitual. Eu olhei, olhei, como jamais havia parado para ver o ritmo da andadura de uma formiga, não entendi nada, mas como sempre tive por principio, acreditar e acatar a sabedoria dos antigos, dos mais velhos, ordenei a peãozada para irem no mato, buscar dois troncos bem altos em forma de forquilha, para fazer um andaime e elevar o motor as alturas.
Eu tinha um sócio Espanhol, o Velásquez. Pessoa ótima, de bom caráter, filosofo, educadíssimo.
O Espanhol estava doidinho para ir a cidade, havíamos passado uma semana no mato, sem banho quente, sem as mordomias de uma boa cama, de um bar etc e tal. Ele me disse: bobagem Luciano, vai chover coisa nenhuma, a peãozada ta doida para ir embora, tomar uma grade de cerveja no boteco logo na entrada da cidade, e isto era como um ritual.
Os peões vendo a posição de um dos sócios do garimpo, logo ficaram ao seu lado, dizendo; vai chover nada, vamos embora, se ficarmos aqui, vamos gastar umas 3 horas indo ao mato para arrumar os dois troncos em forquilha, desparafusar o motor e eleva-lo na talha .
Eu disse seguinte: tudo bem, vocês é quem sabem, mas se não forem ao mato buscar os troncos, não terão a grade de cerveja e as pingas com tira gosto no bar da entrada da cidade, vão ficar com sede rsrsrs.
Eu costumava dar ordens, com uma certa delicadeza, ao invés de mandar eu pedia por favor, contudo, os comandados sabiam exatamente que teriam que cumprir.
Assim foi feito, elevamos o motor Mercedes Benz as alturas e rumamos para a cidade.
Domingo pela manhã, ao acordar, olhei em direção ao Pico do Itambé, todo preto , nuvens carregadissimas, pesadas.
Segunda feira pela manhã, quando retornamos ao garimpo, deparamos com as águas do rio Jequitinhonha espumando, babando como diziam os garimpeiros, e havia subido uns três metros de altura, contudo, o motor Mercedes, lá dependurado, com água no carter apenas.
O Espanhol, ficou abismado de ver como um matuto poderia prever, com precisão e antecedência de vinte e quatro horas, uma tempestade forte daquele jeito, e sem um único sinal no céu, sem nuvens, sem mudança de temperatura, nada , absolutamente nada.
Foi neste momento, que lhe contei sobre a andadura das formigas cabeçudas. E obviamente, nunca mais esqueci a lição , dada pelo meu velho e querido amigo, Jarbas Fidellis.
“Causos” verídicos, ocorridos na década de 80, em Diamantina MG.






Cumbuca e Castiçal de Prata




Bar do Nôca – Diamantina, Minas Gerais
Bar famoso funcionava apenas durante o dia por décadas a fio.
Sua clientela maior eram os funcionários dos Correios e Telégrafos, ficava ao lado da agencia.
Obviamente, alguns tropeiros por lá aportavam também, visto que era passagem destes, na chegada a Diamantina, vindo dos Distritos carregados de mandioca, verduras, rapadura, boa pinga e uma gama variada de produtos produzidos em suas Terras.
O Bar do Nôca era tocado por dois personagens impagáveis, Pai e Filho.
Um rendia ao outro em hora de almoço, serviços bancários etc.
Certo dia, o pai fora almoçar e chega ao bar um matuto com um castiçal de três pontas, de prata, bem conservado, bem de família e oferece ao proprietário do bar. Depois de alguns regateios, a compra foi efetivada.
O bar em pauta, além da boa pinga, pastéis e carne de panela, vendia algumas quinquilharias, compradas de tropeiros, e mesmo de ambulantes avulsos, era como uma renda extra ao Bar. Vendia garruchas, espingardas de dois canos, polveiras, arcas, baús, alforges etc e tal.
Assim que chegou ao Bar, vindo dos serviços bancários, o pai se assustou com a preciosidade comprada pelo filho e foi logo falando: cadê o outro? Que outro papai? O outro castiçal seu mané. Não tem outro papai, comprei apenas este. De pronto foi reprimido e chamado de besta, otário etc e tal, porque aquela preciosidade só tinha valor, se fosse o par.
Passou praticamente uma década, e o velho castiçal ainda estava lá ocupando lugar na velha e empoeirada prateleira.
Certa tarde ensolarada, eis que voltando do seu horário de almoço, o filho se depara com um matuto subindo á rua da rodoviária meio apressado, mas com uma raridade nas mãos, um castiçal idêntico ao que ele comprou há uma década e estava lá encalhado na prateleira.
Abordou o matuto e foi logo dizendo: quanto o senhor quer por esta peça? O matuto disse: não vendo, é presente para minha filha, ela casou-se há poucos dias, e vou dar a ela.
Mas o comprador insistiu muito, argumentou, contou a historia do castiçal e disse que precisava muito daquela peça para formar um par, que seu velho Pai, passara praticamente uma década lhe cobrando a compra de outro castiçal para formar o par, afora as galhofas dos frequentadores, etc e tal.
O matuto percebendo o grande interesse do comprador disse: vendo-lhe este castiçal, são $200 contos de réis. O comprador oferecerá $100 Contos de Reis, contudo o matuto não aceitou.
Acabaram fechando negocio por $200 contos de réis, quatro vezes o valor pagado a época pelo castiçal.
Negócio fechado, negócio feito.
Eufórico, o comprador ruma ao bar apressado para dar a boa nova ao seu pai, e enfim, livrar-se das galhofas dos frequentadores do bar.
Lá chegando disse: Papai tenho uma surpresa para o Senhor, acabei de achar e comprar um castiçal idêntico ao que temos, para que possamos formar um par e vendê-lo com um bom lucro.
O pai , velho tarimbado comerciante de bugigangas, foi logo colocando as mãos na cabeça e dizendo: Desnaturado, burro, levei anos para empurrar aquele castiçal em um matuto e você o compra meia hora depois que o vendi, por um preço quatro vezes maior? Deste jeito, iremos à falência rsrsrsrsrsr.
De hoje em diante, vc esta terminantemente proibido de comprar qualquer coisa, seja lá o que for, estamos entendido? .
Funcionários dos Correios e Telégrafos que frequentavam o bar,vez por outra, largavam os teletipos, davam uma escapadinha e iam lá tomar uma branquinha, para abrir o apetite.
Numa destas escapadas, eis que o freqüentador se depara com seu algoz, um cobrador meio zangado, cara feia, estivera à procura do mesmo a dias, para cobrar-lhe uma penosa, uma conta bem atrasada.
Diante da desfeita, de ser cobrado na vista dos colegas, já meio sem graça e sem o dinheiro suficiente para saldar a divida, foi logo vociferando: Olha, diga ao seu patrão, que se me cobrar de novo, na vista dos meus colegas, eu nem colocarei o nome dele na cumbuca no mês vindouro, estamos entendidos?
Sem entender exatamente do que se tratava, o cobrador disse: senhor, não entendi corretamente o recado a ser levado ao meu patrão.
No que o frequentador disse, seguinte: como devo a muita gente, e não tenho condições de pagar a todos, faço exatamente o seguinte: escrevo o nome dos meus credores num papel, dobro e coloco numa Cumbuca, depois aleatoriamente sorteio dois, que serão agraciados naquele mês, os outros, terão que esperar pelo próximo mês, quando receber os meus proventos.
Mas se o seu patrão mandar me cobrar novamente, não colocarei o nome dele na cumbuca para ser sorteado.
Causo verídico, da década de 70, em Diamantina.




Bar Serenata  Boteco famoso..


Em todos os rincões do Brasil, existem bares e bares.

Contudo, alguns são mais peculiares, tem um diferencial. Por vezes, tem até mesmo clientela específica, frequentadores assíduos.

O Bar em pauta, tradicionalíssimo, passou de geração em geração, fez aniversário de 50 anos, com direito a Furiosa (banda de música), bolo, fotos para a posteridade, e obviamente, a especialíssima cachaça do Vale do Jequitinhonha.

Em suas prateleiras empoeiradas, uma exemplar coleção da Branquinha, de todos os cantos do Brasil, deve valer uma pequena fortuna. Os nomes da marvada, os mais  variados, cômicos  e até mesmo pornográficos, tais como: Levanta moral, Prati foi feita, Corno Manso, Corno bravo, Amansa Corno, atraz do Pau, Chora na Vara, Linda Fulô, algumas famosíssimas como a Velha Januária, Da Glória, Predileta , e não poderia faltar, a especialíssima ”Havana”, fabricada por Anísio Ferreira na cidade de Salinas MG, para se ter uma idéia, ano passado vi alguns exemplares desta marca em Parati RJ, ao preço de R$900.00 (novecentos) Reais, US$ 400 dólares a garrafa!!!!

Causos e mais causos, ao longo de meio século, foram colecionados pelo proprietário, alguns hilários, outros inverossímeis!!!. A seguir , uma pequena mostra:

O mais interessante, é que este Bar, o Serenata, só abria suas portas, por volta das 16:00 horas, e pontualmente, não passava das 22:00 horas, questão de tradição. Servia apenas pinga, tira gosto e cerveja gelada, nada mais que isso.

Matuto adentrou o bar e foi logo pedindo, uma dúzia de pastéis e uma pinga, no que foi prontamente atendido. O pastel era mirrado, mas de boa procedência, bom tempero, massa especial, caseira. Terminado a dúzia, o matuto pediu outra dúzia. Já não aguentando mais, disse ao balconista: embrulhe mais uma dúzia, o que seria a terceira dúzia de pastéis, quem sabe em casa terei mais sorte?

O balconista novato, intrigado, perguntou ao matuto: mas sorte em que senhor? O matuto responde: UAI, ouvi dizer, de pessoa de confiança, que se alguém achar uma azeitona dentro do pastel, ganha um Fusca Zerado!!!!!

Dia findando, ainda com lusco fusco, adentra o bar o senhor Lacerda, garimpeiro famoso, alegre e flautista ao extremo. Dirige-se ao dono do Bar e fala: por favor, embrulhe aquele cacho de Banana, aquele mais maduro e deixe-o separado aí, que mais tarde passo aqui para levá-lo ao garimpo, retirou o dinheiro da carteira, pagou, recebeu o troco e se retirou.
A questão é que, não havia cacho de banana algum.
Antigo fiscal do Estado, que estava debruçado no balcão tomando sua pinguinha diária, olhando aquela cena, aguçou o olhar, esfregou os olhos e ficou intrigado com o fato, porém, não disse nada.

No outro dia, a mesma cena se repetira, com fidelidade extrema, e o sujeito a postos, o Fiscal do Estado.
Passados alguns dias, deram falta do Fiscal do Estado, assíduo frequentador do Bar Serenata, alguém perguntou: e fulano, que aconteceu, dois dias seguidos que não vem ao Bar?
No que um dos presentes disse: ele foi a Belo Horizonte fazer exames de vista, disse que não estava enxergando mais nada, nem mesmo cacho de banana maduro.

Prefeito de Diamantina na década de 70, engenheiro do  antigo Departamento Nacional de Estrada e Rodagem, fora a Belo Horizonte operar os ouvidos, não estava escutando absolutamente nada.

A cirurgia fora um sucesso, devolveu-lhe a alegria de prosear, de estar entre os amigos.

Lá pelas 22:00 horas, o Bar Serenata oferecia aos presentes e mais especificamente aos chegantes, a ultima coada de café, e de graça. Uma turma enorme ficava na esquina esperando o café, para irem embora para casa.

O único ônibus que chagava a cidade, era exatamente as 22:00 horas, e o ponto, em frente a praça da Catedral, ao lado do Bar Serenata.

Apeia do ônibus , o Prefeito e vem todo sorridente , ao encontro da turma que sempre estava a esperar a ultima coada de café.

Combinaram o seguinte, os sacripantas: Olhe gente , lá vem Dr. fulano, o Prefeito, ele esta vindo de Belo Horizonte, onde foi operar os ouvidos, vamos fazer de conta que estamos conversando normalmente, vamos cumprimentá-lo , saúda-lo, porém, apenas com mímica, não vamos emitir som algum, vamos fazer de conta que estamos conversando normalmente, mas sem voz, ok? Todos concordaram.

Para chegar a Diamantina, sobe-se em poucos quilômetros, de uma altitude  de aproximadamente 600 metros para uma altitude de 1.300 metros, depois de singrar a serra do Paraúna, e obviamente mesmo quem não tem problemas auditivos, as trompas de Eustáquio, ficam obstruídas por algum tempo, e há uma perda auditiva momentânea.

Aproxima-se o Prefeito e efusivamente cumprimenta um a um dos presentes, em voz alta: boa noite fulano,  boa noite cicrano como vai dona fulana sua esposa, e assim a todos saudou, porem, não ouvia  a retribuição dos comprimentos. Tentou puxar uma conversa  sem sucesso, apenas ele falava, os presentes, apenas balbuciavam em mímica, as respostas.

O Prefeito foi ficando agoniado com aquela situação inusitada, despediu-se de todos e disse: Vou  para casa, ligar meu rádio Phillips, passar bem.

Chegando em casa, abre a porta da rua, sobe as escadas, e a Luz apaga, era comum em época de chuva, a Luz faltar, e só voltar no outro dia.

Dizem que o Prefeito não pregou os olhos durante a longa e tenebrosa noite na escuridão.

Assim que o dia raiou, as varredeiras iniciaram seu trabalho diário exatamente as 06:00 da manhã.

Vendo que o dia raiara, sai o Prefeito a rua, dando bom dia a todo mundo, mais exatamente as varredeiras de rua, dizem que até uma estátua ele cumprimentou. Quando ouvia  a retribuição do seu cumprimento, do seu bom dia, ele se alegrava efusivamente, perguntava pelo marido,  puxava assunto, perguntava se as varredeiras estavam recebendo o salários em dia etc e tal. As varredeiras, ficaram sem entender absolutamente nada, visto que o Prefeito, não tinha este hábito, de cumprimentá-las tão efusivamente, muito menos puxar prosa.

Assim que encontrou um dos frequentadores do bar Serenata, disse-lhe: Vou mandar fechar este bar, vocês não tem respeito, passei uma noite terrível, angustiado, por conta da galhofa de vocês.

Logo a tarde, já desistira de fechar o bar, visto que seria um prejuízo eleitoral dos maiores, e como velha raposa Udenista,  pode perder o amigo, mas jamais a piada!!!!!!

Causos verídicos, depois volto ao Bar Serenata.







Os festejos Litúrgicos da Semana Santa, no Distrito do Curralinho, Município de Diamantina, sempre foram de dar inveja: banda de música, procissão com personagens vestidos a caráter da época, Guarda Romana, pálio, toda a pompa para o evento.

Centenas de pessoas de Diamantina, iam assistir o cortejo no Distrito de Curralinho, preterindo o do Município. Diziam que havia mais pompa, mais alma, era mais real, e com certeza era mesmo, pois até encenação da crucificação do Cristo havia,  com personagem real, ao vivo.

O personagem que encarnava e representava Cristo, até a barba deixava crescer, quando vesprava a Semana Santa. Sujeito cônscio das suas obrigações, sério, alto e magro, comprador de Diamantes afamado na região, meio bronco por natureza, mas adorava fazer o papel de Cristo crucificado. Aquilo, era o máximo para ele.

Havia um único porém: ele era chegado numa branquinha, numa marvada, numa cachacinha.
A questão era que, o cortejo, a encenação com descendimento da Cruz, duravam uma eternidade, com direito a pregação de Bispo, padre etc e tal.

O ator, ladino como ele só, combinou com seu algoz o seguinte: toda vez que eu pedir água, na cruz, vc por favor embeba um chumaço de algodão em pinga e coloque na ponta da vara e me sirva, assim , não vejo o tempo passar.
Trato feito, trato cumprido. Só que, com imprevisto o célebre ator não contava.

A esposa do soldado romano que servia água a Jesus na Cruz, estava prestes a dar a luz a mais um rebento, e justo no momento em que ocorria a crucificarão, logo após o primeiro pedido de água, que na verdade era uma boa dose de pinga embebida no algodão, o algoz foi chamado as pressas a sua casa, por um emissário, sua esposa entrara em trabalho de parto, justo naquele momento.

Assim sendo, tratou rapidamente alguém para substituí-lo na encenação. Foram a uma casa vizinha, trocaram de roupa e o novo algoz ficou a postos, com  um detalhe: o algoz que saíra , esqueceu-se de dizer ao novato que o substituiu, que ao invés de colocar água no algodão, era para colocar uma boa dose de pinga, o litro estava escondido debaixo da armação de madeira, do palco.

Na primeira pedida de água do ator, que estava a representar o Cristo crucificado, depois da troca do algoz, houve um espanto total dos presentes, ao ouvir o Cristo  crucificado, logo após bebericar o algodão: “Vade retro Satanás” , p.q.p. que me sacanear é? Detalhe: ao invés de falar baixinho, segundo dizem, ele era meio surdo, falou alto e todos escutaram rsrsrsrs.

Uma algazarra total, murmúrios, risos, cochichos, muitos dos presentes a cerimônia Litúrgica, sabiam literalmente do que se tratava, pois anos a fio, a mesma historia se repetira.

O Bispo interrompeu o sermão, perguntou ao ator: está sentindo-se mal filho? ao que prontamente foi respondido: não senhor, estou bem, só estou numa secura danada!!!!.

Mais um pedido de água, mais uma decepção!!!! mais cochichos, desta feita, baixinhos!!!!

No terceiro pedido de água, o algoz, já sem entender nada do que estava acontecendo, disse em voz alta: Vais ficar com sede mal agradecido, e não serviu-lhe a água.

Nestas alturas dos acontecimentos, arma uma tempestade das bravas, daquelas de arrancar arvores pelo tronco e derrubar cavalo amarrado.

O Bispo , vendo o povaréu esvair-se da praça, logo sugeriu: Gente, vamos terminar o sermão na Igreja, todos para dentro da Igreja.

E assim, em ritmo de manada, todos se retiraram, a praça em questão de minutos, ficou completamente vazia, sobrando apenas, um padre velho que andava bem devagar, e algumas senhoras já bastante idosas, e obviamente, o ator, lá no alto da cruz, amarrado pelos braços e pernas. Fora esquecido!!!!

Eis que surge um grito: me tirem daquii, me tirem daquii, e com os punhos balançando,como que tivesse dando banana, disse em alto e bom tom: Cambada de f.d.p. , ano que vem, aqui para vocês óooo,  e olhava para os dois punhos, balançando.

O Padre velho, ouviu aqueles xingatórios, voltou e disse ao ator: Vais ficar aí pregado, espiando sua blasfêmia!!!!!

Causo verídico, ocorrido em Curralinho, distrito de Diamantina, nos idos de 1950.










“Causo” da Dinamite, do Amendoim Torrado e da Cegueira.




Antes da primeira Grande Guerra Mundial, os moradores da pequena cidade provinciana de Diamantina, tinham muito pouco lazer à disposição.
Um grupo de senhores mais abastados, sempre que o sol despontava no horizonte, rumavam para o clube local, para uma jogatina de pôquer, valendo alguns Contos de Réis.
Não era um jogo de vida ou morte. Aventureiros às vezes apareciam, mas logo eram depenados, pelo conluio dos demais. Era tão somente uma diversão, vez por outra, alguém extrapolava e perdia uma boa quantia.
Queixas eram dadas as autoridades competentes, via de regra, pelas próprias esposas dos viciadissimos jogadores, mas sem nenhuma providência tomada, visto que, estes eram pessoas de bem, da mais alta sociedade. Assim sendo, as autoridades faziam ouvidos de mercador, ouvidos moucos.
Participavam advogados, comerciantes, mascates, fazendeiros, garimpeiros, aposentados etc. e obviamente alguns “sapos” .
Dois episódios interessantes ocorreram com o mesmo personagem, garimpeiro de cristal, na flor da sua terceira idade, engraçadissimo, de uma presença de espírito fabulosa, daquelas almas que vieram ao mundo para serem felizes e também trazer felicidade aos que o circundavam.
Mesa de pôquer formada, o Senhor Lacerda inicia sua aventura cotidiana juntamente com os demais viciados na jogatina diária. Havia tirado uma boa partida de cristal limpo, e vendido a bom preço para os Americanos.
Exacerbou-se no jogo, dobrando as apostas, e acabou perdendo uma pequena fortuna na mesa de pôquer.
Meio descabriado, despediu-se de todos e disse que voltaria em alguns minutos.
Uma hora depois, adentra a sala de jogos do Clube, o Senhor Lacerda, com o terno de linho SS120 todo amarrotado, gravata a meio pau, cabelo despenteado e andar trôpego, e balbuciando palavras pouco compreensíveis aos demais.
Assim que adentrou a sala de jogos, fechou a porta com a chave e retirou-a da fechadura, colocando-a no bolso do seu paletó de linho, o que de certa forma já causara espanto aos demais, que estavam presentes à mesa.
O Senhor Lacerda pediu um minuto de atenção a todos, interrompendo o jogo, e iniciou um breve discurso. Foi lacônico. disse a que veio:
Queridos e digníssimos companheiros e conterrâneos de longa data, eis aqui, a Vossa frente, um Homem literalmente falido, vitima do seu próprio vício. Impossibilitado doravante, de cumprir seus compromissos financeiros agendados anteriormente, tomei uma drástica decisão!!!! Partirei desta vida, para quem sabe, uma melhor em lugar desconhecido e não sabido. No entanto, resolvi levar comigo, os queridos amigos aqui presentes, que de certa forma, contribuíram para a minha ruína financeira.
Neste momento, o Senhor Lacerda, retira do bolso do seu paletó de linho SS120, três bananas de dinamite, previamente arranjadas, digo amarradas umas as outras, e um pavio bem curto, coisa de centímetros, e diz: encontrar-nos-emos em algum lugar, ou no céu, ou no Inferno.
Logo apos o pequeno discurso, ateou fogo ao pavio da dinamite!!!!
Uma balburdia generalizada, alguns tentando arrombar a porta de aroeira, sem conseguirem, outros, enfiaram-se debaixo da mesa de jogo, um deles, advogado célebre na cidade, desandou a chorar e a lamentar, dizendo: Valha-me Deus, perdoe os meus pecados, se é que os tenho rsrsrs.
A esta altura, já exalava um mau cheiro na sala pequena de jogos, alguém defecara de tanto medo. 
Passados alguns minutos, que mais pareceram horas ou dias, em um misto de pavor, medo e indignação, o Senhor Lacerda, desandou a gargalhar, ria a cântaros, para desespero dos demais.
Disse laconicamente: cambada de maricas, medrosos, não vamos a lugar algum. Aliás, vamos sim, sair logo daqui, porque tá um cheiro horrível de bunda velha rsrsrsrsrs.
A dinamite não era real, o senhor Lacerda, como velho garimpeiro, sabia bem manipular os cordéis, pavios e a dinamite, usará por longo tempo em seus garimpos. Ele retirou a pasta interna da dinamite, deixando apenas o invólucro, preencheu o vazio da embalagem com estopa e colocou um inofensivo pavio, claro, este real.
Dizem que o Senhor Lacerda ganhou dois inimigos fraternais, ad perpetum, por esta brincadeira macabra rsrsrs.
Esta troça, foi motivo de flauta, de gozação por décadas a fio.
Em outra feita, ao derredor da mesma mesa de jogos, o Senhor Lacerda, sempre levada nos bolsos do seu paletó de linho ss120, amendoins torrados. E para seu espanto, um sapo, um não jogador, um daqueles olheiros habituais, um curioso, assiduamente lhe fazia parceria nos amendoins, a ponto de meter a mão nos bolsos do paletó para retirá-los.
Certo dia, já meio injuriado com os abusos do curioso sócio nos amendoins, mas sem querer ofender o sujeito, colocou dentro do bolso do paletó, alguns amendoins torrados e bosta de cabrito. Ao que o sócio intruso, na medida que ia furtando os amendoins , dizia: este esta bom, este está chocho, este esta bom , este esta chocho, mal sabendo o sacripanta, que metade do que comera era amendoim, a outra metade, bosta de cabrito.
Em outra feita, este mesmo curioso observador, de nome Cara Preta, tomou o maior susto do mundo.
A luz elétrica, sempre ia embora, demorava alguns minutos, mas voltava.
Num destes apagões, antes da chegada do curioso Cara Preta, os habituais jogadores combinaram seguinte: quando a luz elétrica for embora, alguém se levanta e vai até o interruptor de luz e o apaga, para que, quando a luz retornar, não acender na sala de jogos, continuar no escuro, e assim continuaremos a jogar (fingir que) no escuro, como que se a luz elétrica já estivesse voltado, normalizado.
Assim sucedeu a farsa, uns pedindo duas cartas, outros 3 cartas, outros dizendo passo, e na seqüência, alguns dobrando o cacife da aposta .
O sujeito foi ficando apavorado, descabriado, vendo que os presentes estavam jogando normalmente e ele não estava vendo absolutamente nada, subseqüente deu um grito e disse: estou cego, socorrooooooooooooo!!!!!!!
Bem que Mainha me disse que eu ainda ia ficar cego por castigo.
Risus abundate in ore stultorum” (O riso, abunda na boca dos tolos). Silêncio total e arrependimento, porque quando acenderam a luz, o pobre Cara Preta estava com os olhos vendados pelas mãos, e se recusava a abrir-los rsrsrsrsrsrs.
Causo verídico, ocorrido na década de 40, em Diamantina, e relatado pelo Senhor Lacerda a mim, que fui seu parceiro em um garimpo de diamantes, no Rio Jequitinhonha.