A Conta Da Luz .
Considero a prerrogativa do
ciúme, um ato de fragilidade Humana, falta de confiança e até mesmo um aguçado e
inapropriado senso de propriedade.
Recém casado, morando em um
porão em que parte da copa servia de escritório, La estava à prancheta com o
Projeto em desenvolvimento e ao lado uma estante, onde ficavam os apetrechos.
Um amigo de longa data,
havia montado uma Farmácia em Diamantina, com a cara e a coragem, nada mais que
isso. E sempre andava as voltas com alguns títulos protestados ou em vias de
serem protestados.
As 08:30 minutos de uma
fatídica sexta feira, eis que este amigo bate a minha porta. Minha esposa o
atendeu, convidou-o adentrar a casa e levou-o ao escritório. Feitas as
saudações, o amigo foi logo dizendo a que veio: Necessito de um empréstimo
urgente, em dinheiro, porque estou com alguns títulos vencidos em cartório e
assim sendo, não posso comprar mais mercadoria a prazo.
Perguntei ao meu velho
amigo, de quanto necessitava naquele momento e ele prontamente disse: quinhentos
mil cruzeiros me quebra o galho!!!!
Pensei, pensei, ponderei e
respondi: Fulano, quinhentos mil não posso lhe emprestar hoje, visto que, ao
que parece , você adivinhou a quantia que me resta no Banco, mas posso lhe
emprestar quatrocentos e cinqüenta mil cruzeiros, esta bom assim, perguntei ao
amigo. E concomitante a minha resposta tentei explicar o motivo de não
emprestar a quantia toda pedida, e sim 90%, disse: amanhã bem cedo viajo para
Capelinha, Minas Novas e Taramandiba com a finalidade de entregar alguns
projetos e preciso abastecer o carro com gasolina, pagar hotel nestas cidades e
claro, um dinheirinho para a cerveja e ainda tenho que fazer um sortimento de
viveres para a casa, e creio que cinqüenta mil serão suficientes para estes
gastos.
Por uma infelicidade, vi em
cima da estante ao lado da prancheta, uma conta de luz e disse ainda ao meu amigo:
Ah, ainda tenho que pagar esta conta DA LUZ.
Neste exato momento, em que
proferi a frase: pagar a conta DA LUZ, adentra ao escritório, minha esposa com
vassoura na mão, pois a mais de meia hora estava a varrer o mesmo local, escondida
e escutando a nossa proza: dedo em riste foi inquirindo o meu amigo: quem é
esta tal DA LUZ, fulano? Vai ter que me dizer agora!!! E admiro muito você,
amigo de nossa família, de longa data, alcovitando RAPARIGA para meu marido,
vindo a nossa casa buscar dinheiro para ELA.
Bom, o meu amigo ficou
alguns instantes estarrecido, paralisado e sem entender do que se tratava, eu
que já estava acostumado, percebi no exato momento, visto que, por ciúmes, fui
acordado varias vezes durante meu sagrado sono, em que balbuciava alguma
palavra ou frase desconexa, pela minha esposa, inquirindo-me quem era fulana ou
beltrana, ao que sempre dizia: não sei, foi um sonho, e é propriedade
particular.
Quando o meu amigo
apercebeu-se que se tratava de uma verdadeira cena de ciúmes, ele que estava
encostado na parede, iniciou uma crise de risos desmesurada, e obviamente minha
esposa ficou furiosa com a reação dele, levando o dedo em riste em direção ao
seu nariz e dizendo: Vai me dizer quem é esta tal de DA LUZ ou não vai? Foi uma
cena Dantesca, o meu amigo agachou-se de tanto rir e depois, tentando explicar
o inexplicável, apontando para a estante a conta DE LUZ e não DA LUZ. , mas como
ria a cântaros, não conseguia explicar o evento, apenas ria.
Neste momento, preenchi o
cheque com a exata quantia de quatrocentos e cinqüenta mil cruzeiros, entreguei
ao meu amigo e disse: vá em paz, não adianta tentar explicar, não vai adiantar
nada.
Por longos anos a fio,
sempre me foi perguntado quem afinal era a tal DA LUZ, obviamente não valia a
pena responder.
Hoje, passados 37 anos, a
minha esposa e este amigo meu, não se furtam em contar este caso hilariante e
inverossímil aos amigos.
Causo verídico ocorrido na
década de 70
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